São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Profissionais 'inventam' palavras

CLÁUDIA RIBEIRO MESQUITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Como ocorre com a tecnologia, os jargões também evoluem. "Garantir um cash-flow positivo", "produzir sinergia na equipe" e "pedir a refação de um job" são apenas alguns exemplos da linguagem usada hoje nas empresas.
O jargão é um termo de origem francesa, que remonta ao século 12, cujo sentido era "fazer zoeira", "bater-papo".
"'Jargon' aludia ao ruído de uma conversa sem sentido", ensina Izidoro Blikstein, 56, professor de linguística e semiótica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
A tradução para o português, segundo ele, guarda o sentido pejorativo, de linguagem ininteligível, um pouco ridícula ou pedante.
O argumento para a sua disseminação entre as pessoas é um só: agilizar a comunicação entre os profissionais, à medida que transmite um grupo de idéias com apenas uma palavra ou expressão.
Mas há também aspectos negativos. O que pode ocorrer é o uso generalizado dos jargões e o seu emprego como símbolo de status e instrumento de poder.
"As pessoas se ocultam sob essa linguagem para se mostrarem especialistas", diz Blikstein.
Para a consultora organizacional Cláudia Lessa, 48, o jargão funciona bem entre profissionais que pertencem ao mesmo nível hierárquico na empresa.
No entanto, diz ela, há problemas quando é aplicado de cima para baixo –sobretudo nos níveis operacionais, onde o grau de escolaridade geralmente é baixo.
"As pessoas passam a usar expressões sem saber o seu significado e até com conotações diferentes das originais", afirma.
Situações desse tipo podem gerar problemas de comunicação dentro e fora da organização.
Por isso, segundo Cláudia, uma característica do bom gerenciamento e dos programas de qualidade é a volta a uma linguagem simples que facilite o entendimento entre as pessoas.

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