São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Nova geração disputa o poder em Londres

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A escolha de Tony Blair, 41, como novo líder do Partido Trabalhista aumenta a probabilidade de o próximo primeiro-ministro do Reino Unido ser um político da nova geração, nascida depois da 2ª Guerra Mundial.
A eleição para a renovação do Parlamento britânico pode ser convocada a qualquer momento até julho de 1997, quando termina o atual mandato do Partido Conservador do premiê John Major, 51.
A perspectiva de Blair se tornar o sucessor de John Smith, morto prematuramente dia 12 de maio passado, aos 55 anos, havia dado novo ímpeto à campanha de parte dos conservadores para que Michael Portillo, 41, atual secretário do Tesouro britânico, suceda, ainda este ano, John Major como líder do Partido Conservador.
Anthony Blair, atual ministro do Interior do governo paralelo e deputado trabalhista desde 1983, foi o escolhido por 57% dos 4,3 milhões de deputados, eurodeputados, sindicalistas e membros do Partido Trabalhista que elegeram seu novo líder em votação secreta no último dia 30.
Com a proclamação de Blair como líder trabalhista na quinta-feira –o mais jovem da história do partido–, ganha força o ponto de vista de parte dos conservadores, segundo o qual somente Portillo poderá opor-se à juventude e ao apelo videogênico de Blair.
O novo líder trabalhista terá, segundo as pesquisas, a melhor chance em mais de 30 anos de conduzir o Partido Trabalhista de volta ao poder.
Depois de quatro derrotas eleitorais consecutivas para os conservadores, em 1979, 83, 87 e 92, os trabalhistas desfrutam atualmente de sua mais alta posição nas pesquisas dos últimos 23 anos.
Com 54% na preferência dos eleitores, na semana passada, os trabalhistas abriram uma liderança de 33 pontos sobre os conservadores, uma das maiores diferenças a seu favor já registradas por uma pesquisa Gallup.
Os trabalhistas tiveram uma vantagem dessa dimensão pela última vez nos anos 70, quando Harold Wilson era seu líder e primeiro-ministro britânico.
"Se vocês (conservadores) não conseguiram mudar o país para melhor em 15 anos, nunca conseguirão", disse Blair ao ser eleito.
O novo líder, que se define como "um socialista por instinto e razão, e não pela motivação politicamente incorreta da culpa" é a voz mais ativa da modernização do Partido Trabalhista.
Em seu discurso, inspirado na agenda para a Nova Esquerda do presidente Bill Clinton, dos EUA, ele defende uma era de "cidadania moderna" para o Reino Unido.
Sua mensagem central diz que o socialismo moderno não significa a perda da individualidade. Ao contrário, deve ser uma parceria entre a sociedade e o indivíduo que não sufoque a liberdade e responsabilidade individuais com o dogma socialista tradicional do controle estatal.
Em visita ao Brasil em março deste ano, Portillo disse à Folha que a sua propalada candidatura à uma eventual sucessão de John Major é pura especulação.
Mas, na verdade, embora à boca pequena, políticos conservadores começam a discutir nomes para a liderança do partido no rastro da queda da popularidade do primeiro-ministro John Major nas pesquisas de intenção de voto e dos maus resultados dos conservadores nas recentes eleições municipais no país e para a representação britânica no Parlamento Europeu.
Os nomes mais cotados para uma possível disputa pela liderança conservadora, além de Michael Portillo, são o do ministro da Indústria e Comércio, Michael Heseltine, 61, e o do ministro das Finanças, Kenneth Clarke, 53.
Mesmo que Blair ou Portillo seja o próximo morador do endereço mais famoso da política britânica (10, Downing Street) em 1996 ou 97, com 43 anos, o mais jovem premiê britânico continuará sendo William Pitt, "o Jovem", que assumiu em 1783 aos 24 anos.

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