São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Oposição suspeita de ação interna

MARCO CHIARETTI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Carlos Álvarez, o "Chacho", 45, passou de deputado a líder principal da Frente Grande, um agrupamento de partidos de esquerda que derrubou o peronismo e o radicalismo em Buenos Aires.
Forte candidato à Presidência, "Chacho" é um dos mais, se não o mais, popular político argentino. Só o presidente Carlos Menem atrai tanta atenção quanto ele.
Logo após manifestação de repúdio ao atentado que destruiu a sede da Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), em Buenos Aires na segunda-feira, ele concedeu entrevista exclusiva à Folha.
Ontem, o número de mortos no atentado subiu para 53 depois que a equipe de resgate localizou três corpos entre os escombros do edifício da Amia.

Carlos Álvarez - Este atentado pegou o país e o governo com os braços caídos, desprotegidos. Não acho que, com estes especialistas em destruição e morte que puseram esta bomba e a da embaixada (de Israel em 1992), seria fácil evitar atos assim. Ainda mais com os nossos serviços de inteligência.
Folha - Esta bomba atingiu muito o governo?
Álvarez - Um atentado à Argentina teria atingido qualquer governo. Até agora achava-se que a política exterior menemista, de alinhamento automático com os EUA, sobretudo o alinhamento no caso dos conflitos no Oriente Médio, o envio de barcos à Guerra do Golfo, não teria consequências.
Eu não quero criar uma relação de causa-efeito automática, mas Menem foi atingido com força.
Lembre-se de que o presidente estava alinhado, na campanha, com grupos sírios, com os líbios, que inclusive participaram do financiamente da campanha.
O abandono deste alinhamento para colocar-se do outro lado pode ter alguma relação com o atentado.
Folha - O governo fala muito em "mão exterior", em conexão internacional. O que o sr. acha?
Álvarez - Achamos que há grupos internos operando. Grupos fundamentalistas, que podem estar coincidindo com resíduos do nazismo na Argentina. Não digo que sejam protagonistas, mas podem ser grupos de apoio de estratégias internacionais de terroristas.
Há uma enorme mão-de-obra desocupada dos anos de terror no país. Isso cria uma certa cumplicidade com o governo, no sentido de que estes setores não se sentem perseguidos pelo governo.
Folha - O que o sr. acha da supersecretaria de segurança criada pelo governo?
Álavarez - Não servirá para evitar o terrorismo e servirá muito para controlar adversários do governo. Hoje, não há nada que sirva à Argentina para enfrentar um inimigo inédito em nosso país.
Não há um só profissional para desenhar uma estratégia de segurança nesta nova hipótese de conflito. Esta secretaria estava já pensada muito antes do atentado, foi proposta e questionada até mesmo dentro do governo.
As pessoas sabem que o órgão foi pensado em outras circunstâncias. E muitos sabem que a busca pela segurança pode afetar a liberdade. Na minha opinião, foi um grave erro político do presidente.
Folha - O sr. será candidato nas eleições presidenciais de 95?
Álvarez - Há uma forte tendência na sociedade para que eu saia candidato. A Frente Grande é hoje a segunda força eleitoral, e crescemos muito nos setores populares, onde Menem era muito forte.
Nos setores mais atacados pela crise, a esperança em Menem rompeu-se. Esta esperança está sendo colocada muito em mim, já que aqui a política é muito particularizada, personalizada.

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