São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Safra alivia a pressão inflacionária nos EUA

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O celeiro dos EUA, na região Centro-Oeste, vai entupir de grãos este ano. A notícia contrabalança pressões inflacionárias e, indiretamente, é boa para o Brasil.
A supersafra de grãos começou a se formar na primavera do hemisfério Norte. Este ano não caíram as chuvas características da estação e, com o solo seco, os fazendeiros puderam plantar bem mais do que esperavam.
As chuvas vieram na hora certa, em junho. No Estado de Iowa, por exemplo, as condições de plantio variam de boas a excelentes na avaliação de técnicos do governo.
A previsão do Ministério da Agricultura é de que a colheita de milho produza 326,7 bilhões de litros do cereal.
Se a expectativa se confirmar, a alta em relação à safra do ano passado seria de 42%. Em 93, as chuvas torrenciais foram desastrosas para a colheita.
A soja também renderá substancialmente mais, ainda que a alta seja menos expressiva do que no caso do milho. Está prevista safra de 78,4 bilhões de litros, 19% mais do que em 93.
A oferta de grãos em geral será tão grande que terá reflexos sobre os preços dos alimentos. Segundo economistas ouvidos pelo "Wall Street Journal", a inflação dos alimentos ficaria perto de 2% este ano.
Antes do anúncio da safra, a expectativa era de que a alta dos preços dos alimentos seria de até o dobro, cerca de 4%.
A supersafra deve, portanto, puxar para baixo o índice geral de inflação, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor). Esta semana, o presidente do banco central, Alan Greenspan, previu que a longo prazo a inflação se manterá estabilizada na faixa de 3,5% ao ano.
A tendência dos preços dos alimentos é um contrapeso importante para a inflação americana. O governo está preocupado com o comportamento dos preços diante de um possível superaquecimento da economia.
O nível de atividade pode ser medido pela taxa de desemprego que vem caindo sem parar. Hoje, cerca de 6% da força de trabalho está sem emprego. Os economistas consideram que abaixo desse patamar os salários começam a exercer pressão inflacionária.
O alívio que os alimentos provocam nessa pressão pode ser decisivo para definir a direção em que os juros vão caminhar.
A qualquer sinal de que a inflação fugiria do controle, o Fed (banco central) elevaria os juros. Greenspan não dá indícios claros do que pretende fazer, mas novas altas não estão descartadas.
Para o Brasil, é positivo que os EUA mantenham a inflação longe de índices inaceitáveis nos países mais industrializados. Com isso, os juros não precisariam subir e os dólares voltariam a fluir para a periferia do mundo capitalista.
Desde que o Fed começou a elevar os juros, em fevereiro, minguaram os recursos captados no exterior pela América Latina. Isso porque os investidores sentiram-se mais atraídos pelo dólar.
A emissão de bônus de países da América Latina no segundo trimestre foi pouco superior a US$ 2 bilhões –cerca de um terço do volume no mesmo período de 93.
No Brasil, a quantidade de bônus despencou para US$ 81 milhões no segundo trimestre. Entre abril e junho de 93, o país havia captado US$ 1,15 bilhão.

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