São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Israel e Jordânia negociam acordo de paz

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Mais um tabu do Oriente Médio deve cair amanhã em Washington. O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, se encontra com o rei Hussein da Jordânia sob os asupícios do presidente norte-americano, Bill Clinton.
Hussein teria admitido no ano passado que se reuniu secretamente com todos os premiês israelenses desde a criação de Israel, em 1948. A única exceção foi Menachem Begin, por opção de Begin.
Mas, pela primeira vez, Hussein encontra um premiê israelense publicamente. Isso após uma semana de encontros bilaterais públicos entre delegados dos dois países na Jordânia que, antes da Guerra do Golfo (91), seriam inimagináveis.
O encontro de Washington foi anunciado depois de os EUA terem prometido perdoar uma dívida de US$ 950 milhões da Jordânia e reequipar o Exército do país.
Hussein, abandonado financeiramente pelos milionários países do Golfo ao não condenar a invasão do Kuait pelo Iraque, pôde assim passar uma imagem aos jordanianos de que o encontro com Rabin era mais uma retribuição à "generosidade" americana do que um gesto de boa vontade em relação ao velho inimigo.
Mas Jordânia e Israel, formalmente em estado de guerra desde a fundação do Estado judeu, sempre coordenaram suas ações no patrulhamento da fronteira comum.
Desde o ano passado os dois países têm um acordo de intenções e é dado como certo que as negociações finais para um acordo de paz não esbarrarão nos impasses enfrentados por Israel no diálogo com a Síria e os palestinos.
Em disputa estão cerca de 380 quilômetros quadrados de território hoje em poder de Israel, mas que, segundo mapas do mandato britânico, são parte da Jordânia.
O reino hashemita reivindica também maior acesso às águas dos rios Jordão e Yarmuk.
Israel diz aceitar em princípio as reivindicações jordanianas. A cooperação entre os dois países para incrementar o turismo regional (como a construção de estradas e reservas ecológicas) pode começar antes mesmo do acordo de paz.
Hussein e Rabin devem assinar algum documento em Washington, provavelmente uma declaração oficial de fim das hostilidades. Se assinasse o acordo já, Hussein não teria depois com o que barganhar.
Mas o acordo é inevitável a curto prazo e é mais uma vitória da estratégia israelense, que conseguiu, com o apoio do governo dos EUA, quebrar a posição comum dos árabes nas negociações, enfraquecendo-os.
O acordo assinado com a OLP em setembro passado, abrindo caminho para o início da autonomia palestina em Gaza e Jericó em maio, colocou pressão na Jordânia, um país cuja população é formada por 60% de palestinos e têm laços estreitos com a Cisjordânia.
Hussein, inclusive, tem reivindicações sobre os lugares sagrados de Jerusalém, clamando que sua família descende de Maomé.
O governo israelense, que considera Jerusalém sua capital indivisível, já até colocou na mesa uma proposta de supervisão internacional dos lugares sagrados da cidade com participação da Jordânia.
Para irritação do líder da OLP, Iasser Arafat, que quer Jerusalém como capital de um futuro Estado palestino, Hussein pode rezar na mesquita de Al-Aqsa antes mesmo do que ele.
Se o acordo Israel-OLP colocou pressão na Jordânia, o encontro de Rabin e Hussein coloca pressão na Síria. Com tudo calmo na frente jordaniana e (nem tão calmo) na frente palestina, e principalmente com o apoio da administração americana mais pró-Israel da história, Rabin pode esperar que o presidente sírio, Hafez Assad, pisque primeiro no impasse sobre a devolução das colinas de Golã à Síria.
Mas um acordo com a Síria é essencial para que o espectro de mais uma guerra árabe-israelense suma de vez do conturbado Oriente Médio. Como diz o ditado: "Não há guerra sem o Egito, nem paz sem a Síria".

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