São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Real, bancos e tarifas

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Alcides Tápias, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), calcula em cerca de 30%, na média, a fatia do lucro dos bancos que vinha do chamado "floating" (dinheiro dos depósitos à vista, portanto sem custo, que os bancos aplicavam).
Esse lucro, filhote da inflação elevada, tende a desaparecer ou cair muito, se houver mesmo estabilização. Logo, os bancos já estão partindo atrás de compensações, que Tápias resume em duas: operações de crédito e tarifação por serviços prestados.
É neste último aspecto que volto a uma tese defendida dias atrás neste mesmo espaço: os cofres públicos precisam, desesperadamente, de bons advogados.
O que surpreende é que o próprio Tápias, embora do outro lado do balcão, tem um punhado de sugestões que poupariam dinheiro do contribuinte. Limito-me a citar um caso, por ser um verdadeiro ovo de Colombo.
Há, no Estado de São Paulo, seis estatais que prestam serviços localizados na casa do usuário (Comgás, Sabesp etc). Cada uma delas tem seu próprio apontador, o funcionário que mede o consumo. Cada uma delas tem seu próprio quadro e equipamento para processar as contas. E cada conta é cobrada em separado, gerando tarifas pagas pelo poder público (pelo contribuinte, portanto).
Unificar o sistema de processamento já daria uma bela economia. Unificar também as contas só aumentaria a economia, ainda mais se adotado o que Tápias chama de "padrão Febraban" (documentos fáceis de processar eletronicamente).
A Telesp, que adota há tempos tal padrão, paga tarifa média de R$ 0,48, aproximadamente um terço do custo de documentos fora desse padrão. Mas a idéia da unificação dorme há uns três anos nas gavetas da burocracia.
Basta imaginar o número de estatais (da União, Estados e até municípios) em que tal simplificação é possível para se ter uma idéia de como há uma enorme margem para se abater custos sem sequer enveredar por discussões ideológicas ou programáticas.

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