São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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OLHEIRO DO TETRA

Por Matinas Suzuki Jr.

MATINAS SUZUKI JR.
TEXTOS E FOTOS

\<FT:"MS Sans Serif",SN\>De todas as cidades-sedes da Copa do Mundo, a "sweet home" Chicago, a cidade com mais etnias e com os edifícios mais bonitos dos EUA, foi a que mais vestiu a camisa do futebol. Chicago sediou a abertura da Copa. O belo estádio Soldier Field, ao contrário das outras sedes, fica em uma das mais belas vistas da cidade. Chicago é uma cidade ligada aos esporte. Os Bulls no basquete, os Bears no futebol americano, os Cubs no beisebol são paixões dos locais. Um gigante Bebeto, cortesia da Nike, apareceu em um mural-realista em preto-e-branco em um dos edifícios da cidade. A Copa também é uma festa racial: o jornalista nigeriano usa sua idumentária étnica para trabalhar. Foram eleitos os mais elegantes de toda a imprensa que cobriu a Copa; A Copa trouxe oportunidades ao comércio das cidades americanas. E também o humor. Esta loja, na sofisticada Avenida Michigan, em Chicago, mandou fazer uma camisa de jogador de hóquei-sobre-patins, uma das adorações dos locais, com o nome de Pelé. E declarou que o primeiro amor do Pelé foi o hóquei
Crédito Foto: Matinas Suzuki Jr.
Observações: COM SUB-RETRANCAS
Assuntos Principais: COPA DO MUNDO; FUTEBOL; EUA
OLHEIRO DO TETRA
Uma Copa é um concerto de Nações. O mundo chega ao final do século e do milênio revirando o seu caleidoscópio de etnias, raças, países. O futebol chega ao fim do século e do milênio como "o" esporte deste mundo.
A Copa é o maior espetáculo da terra. A América é a terra do espetáculo. "Let's go to the goal", dizia um dos slogans da Copa. Vamos direto ao gol.
A Nova Ordem Mundial criou uma legião internacional de bipatriados. Milhões de deserdados do Terceiro e Quarto Mundos que vieram ser mais um dos bravos na Terra dos Bravos.
Além de milhões de filhos do Primeiro e do Segundo Mundos que vieram, há muito tempo, procurar a prosperidade na Terra das Oportunidades. A América é um país mosaical, patchwork de outros que se costuram ao seu solo.
Os EUA são o território do multiculturalismo. O país que, durante quase um século, impôs a sua cultura ao mundo, passa a ser contaminado por milhares de células de pequenas culturas estrangeiras.
O país que, narcisisticamente, só olhava o espelho do seu cinema, dos seus costumes, dos seus esportes, passou a acolher, na sua vida cotidiana e institucional, o imenso repertório de pequenos outros países que construíram a Grande Diferença.
Em princípio, o "soccer" veio para os EUA como uma espécie de convidado trapalhão. Depois, como uma espécie de adivinhe quem vem para o jantar. Acabou a noite dançando com a mulher do dono da festa.
Não há muito mistério nesta conquista. O futebol já era multiculturalista desde criancinha. Antes, a América se perguntava: se é bom para nós, por que não é bom para eles?
Agora, todos os dias, os jornais americanos perguntam: se é bom para o resto do mundo, por que ainda não é bom para nós? Bem, está começando a ser.
No país do não-futebol, todas as etnias, todas as torcidas, todas as magnéticas se sentiram em casa. Terra de muitos e terra de ninguém. Nunca houve tanta gente nos estádios em uma Copa do Mundo. Nunca as torcidas se sentiram tão à vontade.
As magnéticas européias fazem o seu rito saturnal, a sua carnavalização medieval. Vestem fantasias e investem contra a ordem. Inversão de tudo: dos papéis sociais, sexuais, a platéia é também o espetáculo.
As torcidas dos países da periferia do mundo, ao contrário, procuram valorizar os seus elementos caracterizadores, o seu mesmo, a suma da sua autenticidade que, se triunfasse na América, seria a vingaça dos colonizados.
Como o elo procurado por todos corre solta, livre, a bola. Aliás, a bola e seus chutadores mais potentes: as empresas transnacionais que patrocinam a Copa e que, com estratégias globais, sabem que o mercado multiculutral é o "seu" mercado.
Um viajante solitário, que deu quase duas voltas na Terra sem sair da América, assistiu a 23 jogos e procurou olhar a grande stravaganza da bola através de uma lente de 30mm, autofocus (neste mundo, só se enxerga bem com a ajuda da eletrônica), embutida em um câmera Canon Eos-Elan.
Aqui vai a viagem de um duplo amador: fotógrafo amador, amador da bola.

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