São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994 |
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Alerta sobre o café adensado
INACIO DE BARROS INÁCIO DE BARROSCom a alta nos preços internacionais, a cafeicultura teve um aquecimento este ano, recuperando o ânimo estagnado desde 87. Entre as técnicas de produção mais difundidas atualmente, o adensamento das lavouras vem ganhando destaque especial, tornando-se assunto da moda entre os cafeicultores. Mas o tema não é novo e, desde a década de 50 a pesquisa demonstra que a produção pode aumentar quando se concentra o número de pés em uma mesma área. Entretanto, os alertas para os cuidados e exigências da implantação da cafeicultura adensada nem sempre têm a mesma repercussão. Ao contrário do que muita gente pensa, o adensamento é uma ótima opção para o cafeicultor, mas não é um novo modelo para a cafeicultura. As lavouras adensadas precisam ser conduzidas com alta tecnologia e controle na ponta do lápis para não frustrar economicamente o produtor. Com o inevitável aumento do uso de fertilizantes, defensivos e podas programadas, o produtor deve consultar um técnico antes de optar pelo adensamento, verificando em detalhes a viabilidade de sua implantação, de acordo com as características da propriedade. O aumento da mão-de-obra em lavouras adensadas é um dos primeiros pontos a serem considerados, pois todas as atividades são realizadas manualmente. Em outros países produtores de cafés finos, a grande maioria das lavouras é de pequenas propriedades (até 2 hectares), com pouca concorrência de mão-de-obra, que é normalmente familiar. No Brasil, ao contrário, o café concorre com os trabalhadores da cana e citros, sem falar na demanda para os centros urbanos. O aumento da mão-de-obra nas lavouras adensadas ainda tem a agravante de ser desuniforme durante o ano, exigindo a contratação de trabalhadores temporários (que no sistema do direito trabalhista brasileiro, é outro problema). A programação de podas periódicas, em função do fechamento das lavouras, é outra exigência do adensamento e as lavouras podadas necessitam ser conduzidas com constantes desbrotas. O fechamento da lavoura também faz surgir um microclima diferente, favorecendo a incidência de pragas e moléstias, principalmente da ferrugem e da broca. A ferrugem pode ser controlada com fungicidas via solo, mas a broca é controlada apenas com pulverizações que são impraticáveis neste sistema. O maior número de plantas por área exige, ainda, mais adubos e fertilizantes. A distribuição mais desuniforme de luz dentro da lavoura adensada provoca ainda uma maturação dos frutos tardia e irregular. No sistema de colheita por derriça, como é realizado no Brasil, a qualidade do café pode cair devido a grande quantidade de frutos verdes. Diante destas colocações, podemos ver que o aumento do capital empregado na condução de lavouras adensadas de café torna o sistema viável e interessante com a saca do produto a US$ 140, mas não a US$ 40, como em épocas anteriores. Isto talvez explique porque a técnica do adensamento do café, apesar de ser comum em outros países produtores, não tenha sido adotada intensamente no Brasil, onde é pesquisada desde a década de 50. INÁCIO DE BARROS é pesquisador científico da seção de café do Instituto Agronômico de Campinas. Texto Anterior: Sem lucro; Junqueiras; Pioneiros; Arborização; Leite importado; Desleal; Contribuição; Valor da terra; Partilha; Safra 95; Veterinários; Diferença Próximo Texto: Vegetal em pó é arma contra desperdício Índice |
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