São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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Vegetal em pó é arma contra desperdício

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma farinha inédita –resultado do processamento das sobras de frutas, legumes e verduras– pode ser a mais nova matéria-prima para pães, tortas, bolos e biscoitos, além de reduzir os atuais níveis de desperdícios de alimentos.
A idéia, já testada e aprovada em laboratório, é do biólogo Ennio Cardillo Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais.
"Fico impressionado com o desperdício de alimentos. Uma batata murcha, por exemplo, não é aproveitada para consumo, apesar de continuar sendo nutritiva", diz Cardillo.
Para fazer a farinha, podem ser usadas as frutas e hortaliças já amareladas ou murchas, além das folhas comumente desprezadas. Só não valem os alimentos podres.
Cardillo diz que a tecnologia para a produção da farinha é simples e de baixo custo. "É uma boa alternativa para a população de baixa renda", diz.
A farinha de resíduos vegetais, ou simplemente vegetal em pó, foi obtida após a esterilização dos produtos em um autoclave a 120ºC. Depois, os vegetais foram desidratados em uma estufa ventilada de secagem e, em seguida, triturados em moinhos.
"O resultado é um pó com até dez vezes mais valor nutricional do que o legume, já que o produto 'in natura' tem entre 80% e 90% de água."
Cardillo estima que 100 gramas de bolo devem ter 40% do pó. "É uma carga boa de minerais e fibras para alimentação."
A farinha pode misturar diversos vegetais ou ter como base apenas uma hortaliça processada. "No caso de uma superprodução de batatas, por exemplo, podemos estocar o pó do vegetal."
Depois é só diversificar as receitas, conforme o sabor do vegetal processado. Segundo Cardillo, até agora a farinha apenas não deu certo em sopas.
A farinha já foi testada em animais em laboratório, onde foi comprovado o valor nutritivo do vegetal em pó. Para ser aprovada para uso humano –a idéia é usá-la em creches populares– faltam análises toxicológicas.
"Como todo vegetal tem alguma porcentagem mínima de elementos tóxicos, é preciso se certificar de que a sua ingestão concentrada não fará mal", diz.
As análises são estimadas em US$ 170 mil. Outro estudo necessário é a análise da quantidade de proteínas e carboidratos presentes em cada farinha.
(SB)

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