São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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Após 26 dias, PT exige renúncia de Bisol

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Executiva do PT e a direção da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva decidiram ontem propor aos partidos coligados a retirada do senador José Paulo Bisol (PSB-RS) da chapa presidencial encabeçada pelo petista.
A proposta do PT será levada hoje à reunião programada com os presidentes dos partidos que apóiam Lula (PT, PSB, PC do B, PPS, PCB, PV e PSTU).
A decisão petista foi tomada após uma reunião que começou às 11h e terminou às 18h. Uma ampla maioria das lideranças petistas votou pela saída de Bisol como candidato a vice-presidente.
O PT vai levar uma lista ampla de nomes para propor aos coligados a escolha do substituto de Bisol. A preferência da maioria do partido é pelo senador paulista Eduardo Suplicy.
Também são citados como viáveis a ex-prefeita Luiza Erundina, a professora universitária Marilena Chauí, o educador Paulo Freire e o deputado Aloizio Mercadante.
O PT sabe, porém, que terá dificuldades para manter a coesão da frente na reunião de hoje. O partido de Lula trabalha com a hipótese de o PSB não abrir mão da vaga que hoje é de Bisol.
A direção da campanha de Lula tem informações de que Bisol ainda reluta em renunciar e pode criar uma situação de constrangimento, já que legalmente o abandono à candidatura teria de partir dele.
O mais provável é que o PSB, caso Bisol seja convencido a abrir mão do cargo, vai lutar para que o vice seja Célio de Castro, vice-prefeito de Belo Horizonte e filiado ao partido.
A crise da campanha de Lula obrigou o candidato a cancelar a gravação programada para seu programa de TV.
O presidenciável ficou na reunião petista até o seu final e foi aconselhado a intervir pessoalmente para convencer Bisol a não criar resistência ao afastamento.
Durante o dia, e antes mesmo de conhecerem o decisão do PT, seus aliados tornaram pública a crise que tentavam esconder.
Roberto Amaral, um dos vice-presidentes do PSB, afirmou que para seu partido a permanência de Bisol estava assegurada.
"O que está havendo é que o PT não está permitindo a participação coletiva na frente e ela está se esgarçando", disse Amaral.
O dirigente do PSB disse ainda que a campanha de Lula está "imobilizada" pela falha do comando petista. A briga que levou à cisão do antigo PCB também pegou carona na crise.
Antônio Carlos Mazzeo, representante dos ortodoxos que herdaram a sigla PCB, criticou o antigo correligionário Roberto Freire, hoje presidente do PPS e que defende a saída de Bisol.
"A posição de Freire e do PPS é oportunista, como sempre", declarou Mazzeo.
O presidente do PT, Rui Falcão, na tentativa de preservar a unidade da coligação, negou-se a anunciar a decisão petista antes de comunicá-la aos demais partidos que apóiam Lula.
Apesar da declaração de Amaral pela permanência de Bisol, a cúpula do PT não acredita que o PSB finque pé pelo senador gaúcho.
O raciocínio é que o presidente do PSB, Miguel Arraes, não tem a mesma posição de Amaral e que é ele o detentor das decisões daquele partido (leia texto abaixo).
Falcão admite que a reunião de hoje não será fácil. "Sabemos que existem posicionamentos diferentes no interior da frente, mas se não chegarmos a um consenso podemos tomar a decisão por maioria", afirmou.
O líder da bancada petista na Câmara, José Fortunati, participou da reunião com outros deputados do partido. Levou a posição majoritária da bancada pela substituição de Bisol da chapa de Lula.

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