São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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22ª Bienal de SP quer ser 'ONU' da arte

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase tudo definido para a 22ª Bienal Internacional de São Paulo, que começa em outubro. E o resultado superou mesmo a ambiciosa expectativa dos organizadores.
Contava-se com 12 a 15 salas especiais: chegou-se a 18 (veja lista abaixo). Pensava-se em cinco dezenas de países: já são 71. O custo estimado era de US$ 3 milhões: agora se trabalha com a perspectiva de US$ 4 milhões –quatro vezes o orçamento anual do Museu de Arte de São Paulo.
O presidente da Fundação Bienal, Edemar Cid Ferreira, assume sem pestanejar a vontade de ter um evento "mega". Para ele, a 22ª Bienal "será uma ONU" e isso é bom: "Quantos mais países, melhor; são mais informações".
O evento será dividido em duas partes: as salas especiais e as representações oficiais dos países. As especiais foram escolhidas pela organização da Bienal e as representações, por curadores indicados pelos governos (veja texto abaixo).
A "ONU" produzirá dois catálogos, um de cada parte, segundo Ferreira. Eles serão editados no mesmo padrão do catálogo da "Bienal Brasil Século 20", a exposição de arte brasileira realizada entre 24 de abril e 29 de maio deste ano (veja texto ao lado).
Outra decisão tomada por Ferreira foi buscar junto ao MEC uma maneira de levar à 22ª Bienal um contingente de 500 mil crianças. Ferreira quer bater o recorde da 19ª Bienal, que foi visitada por cerca de 220 mil pessoas.
"Acho que o segredo é que, pela primeira vez, a Bienal está sendo tratada como empresa", diz. "Foi por isso que, em pouco mais de um ano de trabalho, conseguimos essas 18 salas especiais, com obras de artistas consagrados mas pouco conhecidos no Brasil."
Entre as salas especiais recém-contratadas, Ferreira destaca a do artista russo Kasimir Malevitch, "que terá 30 obras, com todas as suas fases", e a do uruguaio Joaquin Torres García, "com mais de 40 telas, que foram uma dificuldade conseguir".
O presidente também chama atenção para as salas do holandês Piet Mondrian e do italiano Lucio Fontana, que trazem obras importantes nunca vistas no Brasil.
As salas especiais receberão tratamento "vip". Cada uma está sendo vendida a um patrocinador exclusivo, que pagará de US$ 100 mil a US$ 400 mil por ela, custeando seguro, montagem e climatização em troca de publicidade.
Outra aposta de Ferreira é nos eventos paralelos. Serão apenas quatro espetáculos, mas ele diz que a idéia foi exatamente fazer "menos e melhores".
Serão três balés e uma "vídeo-ópera". Os balés terão diálogo direto com as artes plásticas: virão a Ópera de Paris com cenários de Picasso, a companhia de Lucinda Childs com cenários de Sol Lewitt e a de Trisha Brown com os de Robert Rauschenberg.
A "vídeo-ópera" é um trabalho do videasta Beril Korot sobre uma ópera do compositor minimalista Steve Reich.
Além disso, Ferreira promete workshops, debates, conferências e a visita de cerca de 2.000 personalidades internacionais, entre curadores, diretores de museus, galeristas, artistas e críticos.
"Essa 22ª Bienal será um exemplo", diz Ferreira, "de que é possível fazer bons eventos culturais no Brasil."

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