São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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Moça boa é a sua

ZECA CAMARGO

"As coisas mais estranhas deixam minha calcinha suada e eu tenho que suar porque às vezes eu penso, se algum dia eu entrasse na política, calcinhas suadas seriam o tema da minha campanha". Este é um trecho de "I'm Not a Normal Girl", do álbum de estréia dessa garota, Maggie Estep, que certamente não é normal.
Desde que apareceram há pouco mais de um ano, os poetas falantes de Nova York viraram quase uma instituição. De "Acústico" na MTV americana a turnês pelo país, eles se venderam muito bem. Agora estão saindo os álbuns –entre os quais o de Estep é um dos melhores.
"No More Mister Nice Girl" saiu há pouco nos EUA e é um marco para essa forma de expressão quase pretensiosa: a declamação. Mas para não aborrecer seus ouvintes, Maggie juntou com a banda I Love Everybody e gravou faixas que dificilmente podem ser chamadas de canções. São coisas estranhas.
Casos bem urbanos são narrados com um caprichado sotaque nova-iorquino ("erres" arredondados, "eles" longos), com expressão suficiente para transformá-los em parábolas modernas. Ou às vezes são fantasias bem absurdas que tomam contam de sua imaginação.
Como o "babaca estúpido" com quem ela é obcecada e cuja função básica na vida é justamente "ser um babaca estúpido para que ela possa ficar obcecada". Ou sua transformação na "Rainha do Sexo do Hemisfério Ocidental" –alguém que se cansou de reprimir sua sexualidade para vê-la brotar depois em anúncios de telesexo na TV.
Com boca de Julia Roberts e visual entre o grunge e o existencialista, falta um pouco para ela ser rainha do sexo. Mas na poesia, seu reino já está garantido.

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