São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994 |
Próximo Texto |
Índice
Otimismo torto O comércio varejista está otimista com o segundo semestre. Sondagem realizada pela empresa de consultoria GS & MD revela que, para 84% dos 50 maiores dirigentes varejistas, o faturamento real vai crescer, assim como as vendas a crédito. Os juros vão cair, as eleições vão ajudar e os prazos de pagamento vão aumentar. Há um consenso evidente: o Plano Real resgata o poder de compra e a inflação baixa viabiliza o crediário. Tudo seria ótimo e tal otimismo seria oportuno, não revelasse a mesma sondagem que a maioria desses dirigentes aposta numa inflação mensal até o fim do ano que, se confirmada, poderia significar a falência do Plano Real. A inflação mensal, para 49% dos entrevistados, ficará entre 3% e 5% até dezembro. Uma minoria, 8,5%, crê em taxas de 6% a 10% ao mês. Mas são também minoritários, 34%, os que esperam inflação próxima de zero. Ou seja, os empresários do varejo estão otimistas com o sucesso do real, mas não associam o sucesso de forma clara a uma redução da inflação a níveis suportáveis. É um otimismo no mínimo inconsistente. Sabe-se que é indispensável para o Plano Real a completa desindexação para contratos de prazo inferior a um ano. Uma inflação mensal entre 3% e 5% significaria o acúmulo, em pouco tempo, de defasagens no câmbio, tarifas, salários e preços que ameaçariam implodir, formal ou informalmente, o compromisso com a desindexação. Iria por terra o Plano Real, a inflação voltaria a se descontrolar e dificilmente ocorreria o cenário róseo de retomada do consumo e das compras a prazo. Outra hipótese, caso se confirmasse o panorama inflacionário predominante entre os varejistas, seria o governo interromper a redução de juros. Ao contrário, tentaria conter a inflação elevando os juros reais. Também nesse caso seria frustrada a expectativa de aumento no consumo e compras a prazo. Resta esperar que os varejistas estejam com expectativas apenas parcialmente corretas. Mais do que isso, é o caso de torcer para que suas expectativas de inflação não sejam profecias auto-realizáveis. De toda forma, a sondagem revela quão enraizada ainda é a cultura inflacionária, a ponto de entortar a percepção até mesmo dos que se proclamam confiantes e otimistas. Próximo Texto: Os católicos e a atualidade Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |