São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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O PFL é de ACM

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Triste cena. O senador Fernando Henrique Cardoso desculpou-se ontem publicamente em nome de sua mulher, Ruth Cardoso, para evitar atrito com Antônio Carlos Magalhães. "Ela escorregou", amenizou, realizando uma autocrítica por procuração. Na verdade, ela errou –mas por outros motivos.
Num comentário à imprensa, Ruth mostrou uma visão pouco edificante do PFL, mas ponderou: "O PFL tem ACM, mas também tem Gustavo Krause". Em essência, ela quis dizer mais ou menos o seguinte: há pessoas que prestam no partido.
Antônio Carlos Magalhães, óbvio, não gostou e, polidamente, enviou um recado: "Nem sempre esposas de candidatos devem se meter em assuntos que não entendem bem". Ela, de fato, errou, mas não por suas sinceras preocupações éticas.
O erro está ver divisão no PFL. Ali quem manda mesmo é ACM. O resto é figurante –na maioria dos casos, sem voto e prestígio político nacional. Se quisesse, Antônio Carlos teria disputado a Presidência com apoio unânime e entusiasmado de seu partido.
Fernando Henrique e seus seguidores se esforçam para vender uma ilusão (talvez as palavras empulhação e enganação fossem mais precisas): o PFL mudou. A vitória não implicará troca rasteira de cargos. É algo parecido a dizer que a raposa vai-se comportar diplomaticamente dentro do galinheiro.
Fico até com vergonha de repetir algo tão óbvio. Os dirigentes do PFL só aderiram a Fernando Henrique porque não tinham alternativa para continuar com os dedos no "Diário Oficial".
Eles pelo menos são sinceros no furor interino por cargos públicos.
Duro de engolir são as complexas interpretações sociológicas sobre a altivez da aliança PSDB-PFL. Só se comparam em asneira à tese alimentada pelo PT de que a candidatura Fernando Henrique Cardoso foi arquitetada por diabólicas forças internacionais, o tal "Consenso de Washington".
PS – Aliás, o nome Ruth carrega uma curiosidade bíblica associada à rebeldia e inconformidade. Na busca de elevação espiritual, Ruth rompeu com seu povo (os moabitas) e se converteu ao judaísmo, com a seguinte frase: "Teu povo será o meu povo; e teu Deus será o meu Deus".

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