São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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Brigas de reis

SÉRGIO AUGUSTO

RIO DE JANEIRO – Até algum tempo atrás, esta notícia seria impensável: "Fifa veta presenca de Pelé no filme que produziu sobre a Copa do Mundo".
Mas ele foi vetado. Por precaução, evitaram até filmá-lo, segundo informa o colunista esportivo Sérgio Noronha. Tudo bem, Pelé disse um bocado de asneiras antes e durante o torneio (minha favorita: "Nós só não fizemos gol porque não fizemos", no intervalo do segundo jogo do Brasil contra a Suécia), mas não foi por sua desastrada performance como comentarista da Rede Globo que o baniram do documentário.
Na raiz do boicote, aquela entrevista que o rei do futebol deu à revista "Playboy", meses atrás, na qual acusava de coisas terríveis o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que além do mais é genro do rei, digo, presidente da Fifa e seu sucessor em potencial.
Dia desses, um colunista deste jornal chamou João Havelange de Kim Il Sung da Fifa. Ao saber da mesquinharia cometida com Pelé, passei a achá-lo mais parecido com Stalin, useiro e vezeiro em subtrair seus desafetos dos documentos históricos soviéticos –que o digam os trotskistas.
E o trêfego Teixeira, com quem o comparamos?
Enquanto vocês decidem, aproveito o resto da coluna para iniciar um lobby em prol da inclusão do psicanalista carioca Luis Alberto Py no filme da Copa. É o mínimo que a Fifa pode fazer pelo Betinho dos canarinhos. Isto mesmo: Betinho dos canarinhos. Que melhor apelido poderia ter um sujeito que há dias sugeriu uma vaquinha nacional para resolver a crise das bagagens da seleção?
O país em peso indignado com o trambique alfandegário, e o psicanalista se saiu com esta: "Eles (os jogadores) me deram tanta alegria que eu doaria um dia de trabalho para ajudá-los a pagar a conta".
E eles lá precisam de ajuda? Há outros heróis da pátria precisando de uma vaquinha. Uma só, não, várias. Nem é preciso procurar o Betinho, o outro, o verdadeiro, para saber quem eles são.

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