São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
Texto Anterior | Índice

Longe da justiça; Antiaborto; Terrorismo na América Latina; Responsabilidade dos consórcios; Água sem privilégios; Direção do real

Longe da justiça
"Em sua passagem pela Receita, o professor Osiris Lopes Filho comprovou a tese de que o grande projeto nacional deve ser a luta pelo cumprimento da ordem jurídica. Nosso maior desafio, hoje, não é rever a Constituição ou a legislação, mas simplesmente observá-la. Essa correta visão das coisas, somada à competência e idoneidade do professor Osiris, em pouco tempo produziu resultados extraordinários. O pedido de demissão engrandece sua história pessoal e preserva nossa confiança na dignidade de uma parcela importante dos homens públicos brasileiros. Mas tem o gosto amargo da derrota: mais uma vez desprezou-se o caminho do Direito, em favor de simples misticismo político. Ficamos um pouco mais distantes da civilização, que pressupõe, acima de tudo, o consenso em torno da idéia de segurança jurídica."
Carlos Ari Sundfeld, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público (São Paulo, SP)

"Como cidadão amante do esporte, além de auditor-fiscal da Secretaria da Receita Federal e ex-integrante de seleções de judô do Brasil, desejo manifestar a minha solidariedade ao comportamento exemplar do funcionário público e cumpridor da lei, dr. Osiris de Azevedo Lopes Filho, por ocasião do triste episódio da liberação da bagagem dos jogadores da seleção brasileira de futebol. O que deveria culminar como uma demonstração de civismo, por parte dos cartolas e, especialmente dos integrantes da seleção brasileira, transformou-se numa lamentável constatação de que aqueles que deveriam dar o exemplo por serem vencedores são os primeiros a descumprir a lei."
Heli Sasaki, ex-campeão panamericano de judô (Brasília, DF)

"É extremamente revoltante a postura adotada pelos cartolas da CBF a jogadores da seleção quando do desembarque de suas bagagens. Não é possível fazer 'vistas grossas' às 17 toneladas trazidas pelo grupo. Heróis? Herói foi Senna, que após sua morte viemos a saber de sua fundação, dos auxílios prestados a pessoas necessitadas e de uma série de caridades praticadas."
Ana Miriam dos Santos Rosa (São Paulo, SP)

"O episódio alfandegário da chegada da seleção nos envergonha e nos revolta. Enquanto brasileiros desempregados sobrevivem do comércio de muambas vindas do Paraguai, arriscando seus parcos trocados ante a implacável fiscalização, o nosso ministro real passa por cima da lei e autoriza a liberação das toneladas de excesso que os pobres craques desembarcaram."
Jaime Panadés Rubió (Araxá, MG)

Antiaborto
"Até agora o aborto é crime e alguns parlamentares querem que não seja mais. Em toda essa discussão, não está em jogo um corpúsculo sanguinolento, um corpo sebáceo, uma coisa disforme, um conjunto de células malignas, que não tem aparência de gente, mas sim uma vida, plena, completa faltando apenas nove meses para vir à luz, somente vir à luz. Não será matando que vamos resolver nem atenuar como querem alguns, os dramáticos problemas de saúde pública que reconhecidamente as mulheres pobres deste país sofrem. O verdadeiro caminho, não o do desespero, está em educar, auxiliar, amparar, dar condições de vida digna à gestante. Não será matando que se atenuará o problema."
Ricardo Caiuby de Faria, membro da Pastoral Familiar de Piracicaba (Piracicaba, SP)

"É necessário que se alerte a população sobre o que ocorrerá na Conferência Internacional sobre a População e Desenvolvimento a ser realizada em setembro na cidade do Cairo. Trata-se de destruir a família, no seu direito a proteção da prole, visto que ocorreria a liberação do aborto."
Massayoshi Nomoto (São Paulo, SP)

"A promotora de Justiça Luiza Nagib Eluf 'promove injustiça' ao afirmar que algumas posições inflexíveis defendidas pela cúpula da Igreja Católica, representada pelo Vaticano, vêm se opondo sistematicamente ao planejamento familiar, aos serviços de saúde reprodutiva e à orientação sexual, como se não soubesse o que é bom para as pessoas ou, pior ainda, como se não quisesse o bem das pessoas."
Luiz Antônio da Silva (São Paulo, SP)

"Como disse Julián Marías, parece-me que aceitação do aborto é o fenômeno mais grave neste século."
Marcos Martinho Basso (São Paulo, SP)

Terrorismo na América Latina
"O Conselho de Fraternidade Cristã-Judaica, que congrega pessoas de diferentes credos promovendo o diálogo interreligioso, baseado no respeito à dignidade humana, manifesta de público sua indignação e condenação ao ato terrorista perpetuado contra a Associação Mutual Israelita Argentina de Buenos Aires. Atos como esse, que transgridem todas as leis divinas e humanas e desrespeitam a integridade humana, que tentam abalar a convivência e o respeito entre os indivíduos que professam credos diferentes, merecem a nossa repulsa e rejeição total."
Edda Bergmann, presidente em exercício da parte judaica, Saulo Marques da Silva, protestante, e Bernardino Schreiber, sacerdote católico do Conselho de Fraternidade Cristã-Judaica (São Paulo, SP)

"O Brasil já quer o penta. Sonhou e alcançou o tetra. É a alegria, a luta pelo fim da miséria, pelo emprego pleno, salários dignos, qualificação profissional e tecnologia ao alcance de todos. Esse é o astral do Brasil, fruto também de uma política diplomática justa. No entanto, despertamos para o pesadelo com o atentado em Buenos Aires. Se aqui nossas crianças morrem de fome, muitos jovens são assassinados, há injusta distribuição de renda e tantas mazelas, vemos aumentar o esforço comum para solucionarmos nossos próprios problemas. É preciso que o Brasil continue sua política diplomática com a equidistância necessária para não interiorizarmos conflitos externos, como ocorreu na Argentina."
Allen Habert (São Paulo, SP)

Responsabilidade pelos consórcios
"Aos agora 'colegas' lesados pelo Consórcio Garavelo, desejo melhor sorte do que nós tivemos. O Consórcio Nacional Feres funcionava desde 65, sempre autorizado a operar ora pela Receita ora pelo Banco Central. O grupo sofreu intervenção há mais de dois anos. No início de 94 houve a liquidação extrajudicial e temos poucas esperanças de reavermos nosso investimento. Pior: interventores do Banco Central nos dizem que 'se, dentro de dez anos, recuperarmos uma parte do que perdemos, poderemos nos dar por satisfeitos'. Ninguém assume responsabilidades. Quem nos deve? Sem dúvida, os proprietários do Consórcio Feres (que continuam soltos, gozando suas riquezas acumuladas), mas também o Banco Central e a Receita."
Ernane Corrêa Rabelo (Americana, SP)

Água sem privilégios
"Se o presidente Itamar Franco quer mesmo acabar com a 'indústria da seca', não precisa comprometer 2 bilhões de dólares com o Projeto São Francisco. Basta enfrentar os 'industriais da seca do Nordeste', determinando ao DNOCS que proceda à abertura de poços artesianos em todo o Nordeste, com seus respectivos açudes, e ao Ministério da Agricultura que supervisione a instalação da irrigação artificial. Tudo com patriotismo, sem injunções políticas e sem superfaturamento."
Raymundo Penha Forte Cintra (Botucatu, SP)

Direção do real
"O Plano Real para ser excelente precisa baixar os juros e impostos e subir salários. A moeda deve circular em direção ao trabalho e à produção."
Walter Maia (Salvador, BA)

Texto Anterior: Justiça para os índios
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.