São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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Ainda falta um goleador ao São Paulo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E o São Paulo segue leve e solto na Libertadores, enfrentando hoje o Unión Espa¤ola do Chile, lá. Quer dizer: não tão leve e solto quanto seria de se esperar, sobretudo porque não poderá contar com a velocidade de Cafu e, talvez, nem o talento de Palhinha.
Mesmo com eles –o exemplo foi contra o Palmeiras–, o time ainda não readquiriu a fluência de jogo dos tempos do bi mundial. Isso porque, com a perda de jogadores habilidosos e inteligentes como Leonardo e o Raí de outrora, caiu a qualidade do meio-campo, embora a entrada de Axel, finalmente, no lugar de Doriva tenha dado ao setor mais versatilidade.
Também a colocação difusa de Válber, como líbero ou meio-campista, acrescenta um elemento novo e fascinante à saída de bola da defesa para o ataque.
Mas ainda falta alguém. E, certamente, não é nem Alemão, com toda a sua experiência, tampouco Túlio, com seu faro de gol. Alemão não é aquele meia refinado capaz de colocar Muller, Euller e Palhinha na cara do gol com um lançamento de surpresa. E Túlio, ainda que goleador, carece de técnica para integrar esse conjunto tricolor, que prima pela versatilidade de seus componentes.
Falta um meia e falta um goleador. Mas está faltando, sobretudo, o que o São Paulo tinha de melhor: percepção na escolha dos novos jogadores.

Já o Palmeiras, mesmo derrotado na Libertadores, segue o caminho certo. Não se abalou com a desclassificação, e continua a sonhar alto: Taffarel, Jorginho e Ronaldo, do Cruzeiro.
Taffarel, na verdade, está na mira há muito tempo. Nem sei se, tecnicamente, hoje em dia, é melhor do que Gato Fernandez. Mas dá mais status. E isso representa muito. Além do mais, sob a supervisão de Valdir de Moraes, estou convencido, Taffarel voltará a fechar o gol como fez na Copa de 90 e na final da conquista do tetra, contra a Itália.
Já com Jorginho ocorre um fenômeno estranho. É um dos maiores laterais de nossa história, jogador quase completo: é veloz, taticamente obediente, chuta forte com os dois pés, esmera nos cruzamentos, tem experiência internacional e tudo o mais. Mas nunca jogou o que sabe em Copa do Mundo. Nas duas, teve modesta participação, mesmo no tetra, quando foi considerado o melhor da posição por jornalistas internacionais.
Além do mais, na última temporada, pelo Bayern, desagradou de tal modo o técnico Beckenbauer que, embora comedido nos gestos e nas reações, nas últimas partidas não conseguia esconder das câmeras sua irritação com o ala brasileiro. Mas, de qualquer forma, se vier, Jorginho vem para o Palmeiras, não para a seleção. E seria um reforço sem igual, na única posição em que o Palmeiras carece de um jogador de altíssimo nível.
Por fim, Ronaldo, que parece ser o mais difícil. Este, então, nem falar. Jovem, forte, veloz, habilidoso com a bola nos pés e infatigável artilheiro, por cima ou por baixo. Com estes três, mais cedo ou mais tarde, o título mundial será inevitável. Enquanto não vier, o palestra irá papando mais alguns domésticos, sem dúvida. E oferecendo um espetáculo que nem a seleção do tetra nos ofereceu.

É de se ver com candelabro de prata Hagi lançando Romário e Stoichkov no ataque do Barcelona, com Cruyff no banco. Era exatamente o jogador que faltava ao meio-campo catalão; o toque de classe e inteligência que fez a grande diferença contra o Milan. Aliás, já pensaram um torneio de fim-de-ano com Milan, Barcelona, São Paulo e Palmeiras? Seria o resgate do futebol que a Copa tentou sepultar.

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