São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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American Ballet Theatre sai dos escombros

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Aos poucos, o American Ballet Theatre, uma das maiores companhias de dança dos Estados Unidos, se recupera do colapso financeiro anunciado no ano retrasado.
Na época, chegou-se a cogitar a extinção do grupo ou mesmo sua fusão com o Joffrey Ballet, outra companhia tradicional sediada em Nova York.
Dirigido por Mikhail Baryshnikov durante a década de 80, o ABT sempre foi cobiçado pelos mais famosos bailarinos e coreógrafos. Em suas temporadas anuais no Metropolitan Opera House, seu teatro-sede, sucedem-se gerações de estrelas, de Alicia Alonso a Márcia Haydée.
Apesar da crise, o ABT ainda mantém nomes como Julio Bocca, Alessandra Ferri e Nina Ananiashvili (ex-estrela do Ballet Kirov). O atual diretor artístico do grupo, Kevin McKenzie, nomeado em 1992, confia no futuro.
Assessorado por um "expert" em finanças, Gary Dunning, McKenzie dispõe hoje de um orçamento anual de US$ 13,5 milhões –contra os US$ 23 milhões que Baryshnikov dispunha em tempos melhores.
A seguir, trechos da entrevista concedida por McKenzie à Folha, nos estúdios do ABT em Chelsea, Nova York.

Folha - Quais as razões que levaram o American Ballet Theatre à crise financeira?
Kevin McKenzie - É difícil apontar um ou outro motivo. Somos uma grande instituição, como muitas outras na América que, num determinado momento, não perceberam que o mundo estava mudando.
A despeito das mudanças, essas corporações não mudaram a mentalidade. Em 1989, aqui no ABT, pensava-se como em 1984, e aí levamos um grande tropeção. Perdemos o equilíbrio e ganhamos um déficit de meio milhão de dólares.
Toda a organização se abalou. Como corporação, o ABT percebeu que, de repente, tinha que repensar tudo.
Folha - Como está a situação agora?
McKenzie - Não estamos num estado de recuperação total, mas muita coisa foi reparada. Acho que no Brasil também existe esse tipo de problema: sem dinheiro não se produz novos espetáculos e sem novos espetáculos os bailarinos não se desenvolvem.
Quando assumi a direção do ABT, junto com Gary Dunning, nosso diretor executivo, a companhia estava mergulhada em uma crise financeira total.
Após um ano de gestão, em 1993, tivemos que cortar muita coisa. Mas, pagamos dívidas e mantivemos nossos compromissos em Nova York.
No momento, podemos dizer que estamos prontos para ir em frente, de forma muito consciente. Dois terços dos problemas estão resolvidos. Nossa última temporada, de 25 de abril a 4 de junho no Metropolitan Opera House, foi um sucesso.
Folha - À parte o sucesso de bilheteria, quais as outras razões que vêm contribuindo para a recuperação do ABT?
McKenzie - O ABT tem um passado glorioso. Conseguia ter sucesso de bilheteria, fazer dinheiro, pagar dívidas etc. Mas, somos uma instituição não-lucrativa.
Hoje levantar milhões de dólares é uma batalha. Não estamos seguros que teremos dinheiro suficiente na próxima semana. Mas, Gary Dunning é um gênio, uma pessoa muito tenaz.
Gary está empenhado em pagar nossas dívidas e para isso ele conhece muito bem os mecanismos dos bancos. À medida que nossos patrocinadores percebem que estamos liquidando débitos, se sentem estimulados para apoiar novos trabalhos. Em nossa última temporada já pudemos encomendar uma nova peça para o coreógrafo canadense James Kudelka.

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