São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Plano econômico é eleitoreiro, diz Fiesp

ANTONIO CARLOS SEIDL; MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A prática de férias coletivas e licença remunerada nas indústrias terá vida curta, segundo Mario Bernardini, titular do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Bernardini diz que a volta dessa prática resulta do atual nível elevado dos juros, o que dá um caráter recessivo ao Plano Real.
Mas ele acha que a equipe econômica vai adotar, até setembro, medidas para evitar que as férias coletivas transformem-se em demissões em massa.
Essas medidas para dar fôlego à economia, diz, atenderiam decisivamente o calendário eleitoreiro do Plano Real. Bernardini acha que o objetivo do plano é eleger Fernando Henrique Cardoso.
Por isso, ele aposta em esforços nas áreas de câmbio e de juros, a partir de meados de agosto, para evitar que a recessão se agrave.
"O governo vai dar algum alívio tributário para incentivar o nível de atividade e os exportadores com reduções do IOF e IPMF".
Para Bernardini, essas medidas de efeito eleitoral criariam euforia em fins de setembro para eleger, no segundo turno, FHC. "O resto é conversa fiada para boi dormir".
Bernardini voltou a criticar a política de juros altos adotada pelo ministro Rubens Ricupero.
Ricupero disse à Fiesp que os juros altos são necessários para que os empresários "cortem a gordura nos seus preços", diminuindo, por exemplo, a margem de lucro obtida com aumentos preventivos na véspera da entrada do real.
Bernardini diz que o ministro confunde preços altos provocados por custos financeiros "acima do nível de agiotagem" e elevada carga tributária, com preços altos decorrentes de elevadas margens.
Diz que na indústria paulista, responsável por quase a metade da produção nacional, margens de lucro, na média, não ultrapassam 10%. "Pode haver exceção em setores oligopolizados. Mas a maioria dos industriais atualmente se contenta em não perder".
Um estudo da Fiesp, que analisa os efeitos dos juros sobre o custo total na cadeia de produção, mostra que cada ponto percentual de juros mensais eleva em 8,2% o custo final.
Segundo o estudo, a uma taxa de juros de 5% ao mês, em termos reais, no final da cadeia produtiva o produto custará 49,1% mais do que se a taxa fosse nula.
Dessa porcentagem, 36,6 pontos serão devidos ao custo financeiro e 12,5 pontos serão devidos à incidência dos impostos indiretos sobre os custos financeiros.
A tese da Fiesp diz que sempre que o governo aumenta a taxa de juros, provoca o aumento dos custos de produção, a redução da oferta e a elevação dos preços.
Comércio
As vendas do comércio lojista caíram cerca de 50% nos dez primeiros dias do Plano Real. A informação é de Gerson Gabrielli, presidente do Confederação Nacional dos Diretores Lojistas.
"As pessoas tomaram ao pé da letra o pedido para não comprar, feito pelo ministro Ricupero", lamentou Gabrielli. No último final de semana as vendas já tiveram pequeno aumento, disse.
Ele diz que as vendas vão crescer em agosto por causa do Dia dos Pais e das promoções do vestuário com a chegada da coleção primavera-verão.

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