São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Moisés lidera ranking de judeus notáveis

DAVID DREW ZINGG

Em São PauloNo mês de julho, 25 anos atrás, tio Dave era um homem muito mais moço, e Ted Kennedy um homem muito mais triste.
Foi na noite de festa em que Kennedy, hoje senador dos EUA, aparentemente errou uma ponte e despencou com seu carro nas águas escuras e geladas de um lago numa ilha chamada Chappaquiddick.
Kennedy sobreviveu. A funcionária de sua campanha, Mary Jo Kopechne, 28, que o acompanhava, não. Os protestos públicos que têm prejudicado a vida política de Kennedy desde então, derivam do fato de que o irmão caçula de Jack e Bob era casado, Miss K não.
Kennedy disse que pegou o caminho errado, que seu carro desviou da ponte e despencou. Ele vinha de uma festa, e a teoria geralmente aceita é a de que estava correndo para fugir de um policial que viu o casal, por assim dizer, marcando um encontro.
Mas não é esse o ponto. A questão que o impediu de seguir o caminho de seus irmãos e tentar a Presidência é: por que ele não procurou ajuda para Mary Jo?
Ele só notificou a polícia no dia seguinte, depois de dormir dez horas. Seu irmão mais velho, Jack, conquistou fama como herói nas águas do Pacífico Sul. É irônico que a fama de Ted tenha afundado nas águas de uma ilha que ele conhecia desde garoto.
Teddy Kennedy transformou-se num respeitado membro do Senado dos EUA, depois daquela noite. Não foi exatamente um modelo de comportamento em sua vida privada, mas mostrou ser um político sensível e compassivo. Ele jamais será presidente.
Então, onde está Tico?
Se você tem qualquer dúvida a respeito das contribuições judaicas para a história do mundo, tenho o livro certo para você.
Chama-se "Os Cem Judeus: Um Ranking dos Judeus Mais Influentes de Todos os Tempos", e está sendo publicado pela Carol Publishing Company.
É uma lista impressionante, mesmo que Dave, esse velho agnóstico, discorde de algumas posições. Por exemplo, o que Groucho está fazendo lá embaixo no número 91 enquanto Karl está comodamente sentado na cadeira sete?
É verdade que Groucho não fez nada tão dramático quanto dividir as águas, mas Moisés, o número um, jamais teria filmado "O Diabo a Quatro", mesmo que o futuro do judaísmo dependesse disso.
Completando a lista dos cinco primeiros, temos Jesus na segunda posição, Albert Einstein em terceiro, e Sigmund "às vezes uma banana é apenas uma banana" Freud ocupa a posição número quatro.
Em quinto está um cara que além de ser o pai de três importantes religiões atende por apenas um nome (como Cher) –Abraão.
Artistas também estão incluídos: Bob Dylan, George Gershwin, Marc Chagall, Steven Spielberg, Marcel Proust e Franz Kafka fazem parte da superlista. O autor, Michael Shapiro, também incluiu sujeitos como o mestre da mágica Harry Houdini, e Lévi-Strauss.
A lista pareceu bastante boa para o tio Dave. Só não entendo que um livro sobre líderes mundiais não inclua Tico Terpins.
Correndo riscos
Norman Mailer sempre andou com amigos estranhos. Mas depois de ler a entrevista dele com Madonna, acho que seus únicos aliados sexuais hoje em dia devem estar na Igreja Católica.
Mailer é um antigo adversário de métodos de contracepção, por motivos "estéticos" e "existenciais" –o sexo tem que ser arriscado. Mailer inclui conceber um filho entre os "riscos".
Mailer sempre colocou seu dinheiro onde seu etc. está. Ele passa quase todo seu tempo escrevendo textos (como a entrevista com Madonna para a revista "Esquire") para pagar as despesas da horda de filhos que teve com seu rebanho de ex-mulheres.
Você pode pensar que a ameaça da Aids deve ter feito com que Mailer veja com menos alegria a idéia de correr riscos ou impô-los às suas amantes. Ele pratica uma espécie de roleta russa sexual. Corre o risco de criar uma nova vida, ou acabar com a sua.
A entrevista de Mailer com a Material Girl é difícil de superar, em termos de humor inconsciente. Mailer diz a Madonna que ela é muito profunda. Ela modestamente concorda.
Mailer pergunta a ela se não é incômodo usar um anel no nariz. Ela diz que sim, que precisa tomar cuidado ao assoá-lo. Mas que é isso que ela ganha com a história: "É bom ter que pensar sobre algo que sempre tomamos por dado".
No seu livro, "Sex", pode-se ver Madonna lambendo uma parte não mencionável da anatomia masculina. Mailer pergunta se ela não o fez porque "religião e excremento não estão assim tão separados". Madonna responde: "Talvez inconscientemente".
Surfando na rede
Para os fanáticos da computação da Gringolândia, a Internet tornou-se o equivalente eletrônico de um boteco do século 21. Pode-se colocar na rede mensagens que 25 milhões de proprietários de computadores de quase todo o mundo podem ler.
Os brasileiros interessados em participar da cyberfofoca sentem-se muito frustrados com a estrutura jurássica de tarifas internacionais adotada pela Telebrás. Para usar a rede, os brasileiros têm que superar um obstáculo financeiro que equivale a uma forma de censura econômica.
A Internet, Joãozinho, é um modelo operacional de como será a superhighway de informações do futuro. Uma rede feita de grupos e de computadores individuais.
Ela foi inventada nos dias da Guerra Fria, como forma para que os intelectuais do governo e das universidades pudessem manter contato mesmo que a bomba destruísse os sistemas de telefone.
A rede funciona como o seu cérebro. Se você amputa uma parte do corpo, o cérebro envia sinais nervosos por outras partes. A rede é imensa, e está crescendo mais rápido do que a conta de O.J. Simpson com os advogados.
Umas coisas chamadas modems são o modo pelo qual você se integra à rede. No ano passado, 5 milhões deles foram despachados para ávidos "cyberheads" nos EUA. Este ano, serão 7,5 milhões e, em 1995, 10 milhões de novos usuários estarão surfando as cyberondas.
A informação é o verdadeiro poder das nações. Enquanto boa parte do mundo está ocupada utilizando as centenas de milhares de informações fornecidas pela Internet, onde está o Brasil?
Tente conseguir uma resposta com o serviço de informações da Telebrás.
Encontro para comer
A região da moda em Nova York é o Flatiron district, centrado na Park Avenue South. Um homem que acaba de abrir um restaurante por lá explicou que "é onde o leste encontra o oeste, o norte encontra o sul, o centro encontra a periferia".
O local subitamente se transformou no centro da nova região de restaurantes da Big Apple. Onze casas abriram por lá no último ano, e há pelo menos mais três se aprontando para a inauguração.
Uma das principais razões para a popularidade da área é que é fácil chegar lá. Há duas grandes avenidas que facilitam para quem vai de táxi. O distrito vem atraindo agências de publicidade e editoras, que trazem pessoas jovens e talentosas que gostam de comer bem.
Um dos primeiros novos restaurantes já se transformou num clássico –o Union Square Cafe. Seu proprietário associou-se ao antigo "chef" do Mondrian e acaba de lançar um novo e modesto restaurante na East 20th Street, chamado Gramercy Tavern.
Os dois parecem ter acertado. O lugar custou US$ 3 milhões. Tentei reservar uma mesa esta semana, mas todos os lugares estão ocupados até 22 de agosto.
Os fatos, por favor
Ninguém jamais acusou Hollywood por excesso de esforço na descrição das vidas cotidianas dos profissionais, sejam eles pilotos de jatos, advogados ou detetives. Agora há uma safra pavorosa de jornalistas aparecendo em novos filmes e, bem... pessoal, dá um tempo, OK?
O velhor repórter Dave está estudando abrir uma ação coletiva contra a Tinseltown no Tribunal Internacional de Haia, por falsidade ideológica de massa.
Acho que os cineastas estão tentando acertar as contas com os críticos que parecem ter sempre a última palavra. Quando os repórteres não estão quebrando as regras mais primárias da ética jornalística, estão sendo detestáveis ou arrogantemente agressivos.
Em "The Client", um ator, câmera e flash a postos, força a entrada num quarto de hospital onde um garoto está em coma. No dia seguinte, as grotescas fotos aparecem na capa de um tablóide local.
E temos também Julia Roberts em "I Love Trouble". Não basta vê-la andando de salto agulha em meio aos mortos em um acidente de trem. Ela também abandona dois locais onde houve assassinatos sem chamar a polícia. Mais tarde, compartilha informações privilegiadas com um repórter do jornal concorrente.
Na vida real ela seria primeiro presa e depois despedida.
No filme de Oliver Stone que sai em agosto, veremos um ator-repórter ajudando a transformar uma dupla de "serial killers"'em celebridades nacionais. Faz o clássico "A Primeira Página" parecer um documentário.

Tradução de Paulo Migliacci

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