São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Rio São Francisco nasce dentro do parque nacional

RAQUEL RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Não bastassem as belezas das cênicas e lúdicas formações rochosas, a serra da Canastra –assim batizada pela semelhança do chapadão com a forma de um baú– abriga as nascentes do mais brasileiro dos rios. Cantado em versos e prosa, o São Francisco mostra seus primeiros filetes d'água próximo à entrada leste do parque.
Ao longo de 14 quilômetros, o rio segue um enviesado percurso para depois render-se a um precipício de 200 metros, formando a imponente cachoeira de Casca D'Anta.
Antes de saltar em queda vertiginosa, porém, o "velho Chico" toma fôlego e repousa em piscinas talhadas pela erosão, de águas gélidas e translúcidas.
Antes de se tornar parque nacional, a região do Alto São Francisco já era visitada por viajantes anônimos e ilustres.
Entre os últimos, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire que, em 1830, publicou suas impressões no livro "Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais".
"Era de supor que eu não encontrasse muitos animais naquelas solidões. Entretanto, não vi nenhum. Mas isso não deve causar surpresa, já que os habitantes passam a maior parte do seu tempo caçando pela redondezas, caminhando às vezes grandes distâncias", relata o naturalista.
Se hoje os caçadores devem respeitar os limites do parque, por outro lado não pode-se afirmar que tamanduás-bandeira costumem desfilar sua altivez aos olhos dos visitantes.
É preciso paciência, além de muita sorte, para se observar os animais. Ariscos, muitas vezes seus tons de pêlos ou penas se confundem com a vegetação ocre do cerrado.
Em compensação, atraídos por presas fáceis, lobos-guará e cachorros-do-mato fazem incursões noturnas pelo pequeno vilarejo de São João Batista, situado na divisa do extremo norte do parque.
Seus moradores estão acostumados com a chegada furtiva desses animais e com a luz de lampião, mas sentem falta do tempo em que havia trabalho na região.
Daquela época restam apenas vestígios, como ruínas de currais, cercas de pedra e algumas lendas.
Uma delas conta que havia um casarão usado por ladrões que fingiam-se de hospedeiros para abrigar mineradores e boiadeiros em viagem. Em um dos cômodos da sede existia uma lança presa ao teto. Quando o hóspede se acomodava, caia-lhe a armadilha em cima, ficando a quadrilha com todos os seus pertences.
O espírito aventureiro que levou à região da Canastra os índios cataguás, seguidos por bandeirantes e, no século 18, pelos criadores de gado, continua a ser exigido dos novos visitantes.
Para se chegar à portaria leste do parque, onde estão suas maiores atrações, é preciso seguir, após Pium-I, por 63 km de estrada de terra, atravessando fazendas.
Chegando na pequena cidade de São Roque de Minas vale a pena, antes de subir a serra que leva ao parque, conhecer uma das 18 cachoeiras que ficam nas proximidades, como a de Zenelo (a 3 km) e a do Rolim (a 40 km).
Delfinópolis, a 100 km do parque, é uma boa opção para se conhecer a parte sul da Canastra.
Próxima à represa de Peixoto, a cidadezinha fica à margem do rio Grande e é cercada de cerrados entrecortados por vários rios e cachoeiras, como a do Paraíso, com quedas-d'água e piscinas naturais.
A vegetação nas redondezas da cidade é semelhante à do parque, com bromélias e orquídeas.
Nas escarpas íngremes da serra do Cemitério, uma das ramificações da Canastra, existem pequenas fontes termais em meio às rochas.

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