São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994 |
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Trabalhadores ignoram dinheiro e a Copa
AMAURY RIBEIRO JR.
Jogam água em suas cabeças, num terreno localizado a 20 metros da casa, e vão dormir. O sono dura menos de duas horas. A fumaça sai pelos buracos dos fornos e entra na casa de Valdivino, acordando toda família. "O carvão está cortando (queimando). Se ninguém fechar o buraco do forno, o forno explode ou estraga o carvão", conta Valdivino, enquanto corre em direção à bateria (sequência de fornos). "Carvoeiro tem de ficar ligado 24 horas por dia. Não tem feriado nem domingo, qualquer descuido dá prejuízo, e o patrão joga a conta para a gente", afirma Jane, mulher de Valdivino. Eles voltam para a cama –feita com quatro pedaços de eucalipto cobertos com bambu. Acordam às 3h do dia seguinte para retirar o carvão dos dois fornos. O trabalho exige experiência e rapidez. "Se pegar fogo no carvão, tem de jogar água em menos de um minuto, para evitar a explosão do forno", afirma Jane. Eles têm três filhos. Aos cinco anos de idade, Janaína já ajuda os pais a tirar refugo (carvão que não queimou) do forno. A casa de Valdivino não tem banheiro e não oferece condições mínimas de higiene. O piso é de terra batida e o fogão, de barro. A famíla bebe a água, suja com pó de carvão e mosquitos, de dois tanques existentes ao lado dos fornos. As condições de vida são as mesmas em outras casas da região, como a de Aristides Ernesto da Silva e Maria Eva da Silva. Dividem uma pequena casa com os seus sete filhos. Eles nunca viram dinheiro.(Amaury Ribeiro Jr.) Texto Anterior: 'Gato' ameaça carvoeiros Próximo Texto: Jovens sonham em comprar roupas Índice |
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