São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Trabalhadores ignoram dinheiro e a Copa

AMAURY RIBEIRO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BURITIZEIRO

13 de julho, quarta-feira, 21h. Enquanto o Brasil enfrenta a Suécia pelas semifinais da Copa do Mundo, Valdivino e a mulher, Jane, voltam para casa depois de 15 horas de trabalho. Nem se lembram do Mundial.
Jogam água em suas cabeças, num terreno localizado a 20 metros da casa, e vão dormir.
O sono dura menos de duas horas. A fumaça sai pelos buracos dos fornos e entra na casa de Valdivino, acordando toda família.
"O carvão está cortando (queimando). Se ninguém fechar o buraco do forno, o forno explode ou estraga o carvão", conta Valdivino, enquanto corre em direção à bateria (sequência de fornos).
"Carvoeiro tem de ficar ligado 24 horas por dia. Não tem feriado nem domingo, qualquer descuido dá prejuízo, e o patrão joga a conta para a gente", afirma Jane, mulher de Valdivino.
Eles voltam para a cama –feita com quatro pedaços de eucalipto cobertos com bambu. Acordam às 3h do dia seguinte para retirar o carvão dos dois fornos.
O trabalho exige experiência e rapidez. "Se pegar fogo no carvão, tem de jogar água em menos de um minuto, para evitar a explosão do forno", afirma Jane.
Eles têm três filhos. Aos cinco anos de idade, Janaína já ajuda os pais a tirar refugo (carvão que não queimou) do forno.
A casa de Valdivino não tem banheiro e não oferece condições mínimas de higiene. O piso é de terra batida e o fogão, de barro. A famíla bebe a água, suja com pó de carvão e mosquitos, de dois tanques existentes ao lado dos fornos.
As condições de vida são as mesmas em outras casas da região, como a de Aristides Ernesto da Silva e Maria Eva da Silva. Dividem uma pequena casa com os seus sete filhos. Eles nunca viram dinheiro.(Amaury Ribeiro Jr.)

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