São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994 |
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'Gato' ameaça carvoeiros
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FELIZLÂNDIA (MG) 'Gato' ameaça trabalhadores"Uma vela branca e um caixão preto". Essa foi a resposta que o carvoeiro Aristides Ernesto da Silva, 53, disse ter recebido do "gato" José Geraldo Medeiros, o Chiquinho, ao lhe informar que pretendia deixar a carvoaria da empresa Agroset, em Felizlândia. Aristides queria voltar para Mirabela, cidade do norte de Minas de onde veio com a família. "Ele disse que eu tenho que pagar a conta do armazém. Mas eu só compro arroz", disse Silva. O carvoeiro disse que trabalha "duro" com a mulher, Maria Eva, e os filhos Luís Carlos, 10, Adriano, 15, e José Geraldo, 12, desde que chegaram à carvoaria há cerca de um ano. O casal tem ainda dois filhos menores de quatro anos. Segundo Maria Eva, Chiquinho proíbe os carvoeiros de sair dos locais de trabalho até mesmo para comprar remédio. Segundo o "gato" Chiquinho, só trabalha com ele quem produz muito. "Caso contrário não compensa", declarou. Usando pulseiras e corrente de ouro, ele aceitou levar a Agência Folha até seu armazém. Logo na entrada do armazém, um registro de irregularidade: a balança que pesa o arroz e farinha dos carvoeiros, mesmo vazia, jámarcava 250 gramas. "O ponteiro está meio enferrujado, mas na hora do acerto a gente desconta o peso", justificou o empreiteiro. Ele se dizia preocupado com a visita constante dos fiscais do Trabalho. "Antigamente não tinha nada disso. Agora a gente tem de fazer um contrato temporário de três meses com os carvoarias para não dar problema. Mas registrar carvoeiro, nunca", afirmou. Chiquinho nega os maus-tratos os trabalhadores. "Por que eu haveria de prender aqui carvoeiro que não produz nem para pagar a conta do armazém? Bater não adianta. Esses eu quero bem longe daqui", disse. Valdivino Ferreira afirmou que fugiu da carvoaria por estar cansado de "ver gente sendo mal-tratada". "Ele (Chiquinho) obrigava o pessoal a tirar o carvão rápido do forno cheio de fogo até a gente se queimar", contou Ferreira. Texto Anterior: Trinta mil atuam nas carvoarias de Minas Próximo Texto: Trabalhadores ignoram dinheiro e a Copa Índice |
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