São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Itamaraty tem acervo histórico de mapas

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O público tem à disposição no Rio de Janeiro uma coleção singular de mapas, consultada principalmente por pesquisadores mas também aberta a diletantes e curiosos.
Os 30 mil itens da Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores não são apenas uma fonte importante para estudos históricos. Esses mapas coloridos, com figuras de canibais do século 16, quando ainda se acreditava em lendas como a do mítico reino de El Dorado, também fizeram a história.
Um dos responsáveis foi o sujeito cujo nome é sinônimo de diplomacia no país: o barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912).
Foi graças aos mapas hoje cuidadosamente guardados no Palácio do Itamaraty que o barão pôde entrar em uma série de disputas de limites com países vizinhos, e terminá-las com resultados geralmente favoráveis.
A coleção começou pequena nas primeiras décadas do século 19. Em 1884, já eram cerca de 500 mapas antigos na posse do governo imperial.
Rio Branco e seus colegas eram ratos de mapoteca. Além de adquirir originais, os diplomatas brasileiros mandavam fazer cópias de mapas encontrados em arquivos europeus.
Joaquim Nabuco fez uma coleção riquíssima de cartas da região amazônica para provar os direitos brasileiros na região das Guianas, por exemplo.
As questões de limites na região amazônica exigiram uma erudição versátil dos diplomatas brasileiros. Eles tinham que negociar com ingleses, franceses, holandeses e com países de fala hispânica.
Mas nas querelas de limites, cada topônimo, cada obscuro nome de rio ou montanha escrito em caligrafia arcaica, também é um argumento, que tende a ganhar importância em uma região escassamente povoada como era (e ainda é) a Amazônia.
Os mapas permitiram ao país aumentar seu território sem disparar um tiro. Ironicamente, boa parte do acervo da mapoteca é de plantas de fortes e fortalezas espalhados pelo país.
Um fortim de terra batida com meia dúzia de canhões podia não ser suficiente para deter um invasor, mas era um marco do domínio luso-brasileiro. Para descobrir onde alguns desses canhões estão hoje seria preciso ou pôr uma roupa de neoprene e mergulhar no Atlântico, ou se embrenhar como um Rondon pela mata cerrada.
Mas mesmo que eventualmente engolidos pela selva ou pelo mar, como inúmeros foram, sua representação em um mapa colonial vale como prova incontestável.
Rio Branco não era um mero consultor de mapas. Ele às vezes fabricava os seus. A mapoteca tem esboços que o barão fez para auxiliar em suas pesquisas históricas.
Um bom exemplo é um esboço que ele fez do Rio de Janeiro em 1711. Baseando-se em mapas posteriores e em dados históricos, ele reconstituiu a cidade da época da invasão francesa de René Duguay-Trouin, com seus fortes, conventos e ruas com nomes bem diferentes dos atuais.
Sem dúvida ele o tinha ao lado enquanto escrevia sua monografia da invasão, um ousado golpe de mão mas que fica fácil de entender examinando a posição geográfica dos fortes e da frota francesa. Sem um mapa para mostrar isso, ele estaria perdido.

MAPOTECA DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Palácio do Itamaraty - avenida Marechal Floriano, 196, centro, Rio de Janeiro, aberta das 9h às 17h de segunda a sexta-feira. Telefone (021) 253-8516.

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