São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Os atores querem show

JANIO DE FREITAS

Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola e Esperidião Amin acharam que, não lhes sendo permitido dirigirem-se uns aos outros, faltou calor, ritmo, empolgação e não sei mais o quê ao seu interrogatório por representantes do catolicismo. O que pretendem, sob o rótulo de debate, é o show das baixarias agressivas, muitas vezes acafajestadas, com que se dispensam de mostrar o que pensam e o quanto não pensam, cada qual tentando conquistar o eleitor apenas pela maior capacidade de denegrir os adversários. No fundo, são todos adeptos da técnica que consagrou Collor.
Para dizer o que queiram, os candidatos dispõem do horário eleitoral. Reuni-los para perguntas que não permitam o show da sua vulgaridade é, porém, a possibilidade de submetê-los às questões que interessam ao eleitorado e de compará-los pelas respostas. Se o perguntador, que deve ter a última palavra, fizer bom uso do seu direito de réplica ou comentário da resposta, aí mesmo é que os candidatos se mostrarão como são. E não é de outra coisa que o eleitorado precisa.
Grande estímulo
A redução de impostos pagos pelos fabricantes está renovada para os carros alegadamente populares. Mas para comprá-los é preciso pagar ágio de 40% e até de 50% nas revendedoras. O resultado deste suspeito estímulo à produção é que o consumidor paga mais caro do que se não houvesse a redução do imposto. E os cofres públicos perdem duplamente, na redução do imposto e no ágio, que é pago por fora e assim fica isento de taxação. Isto se repete há mais de um ano.
Mas não há problema para o equilíbrio das contas do governo. Em igual medida do que deixa de entrar nos cofres públicos, a equipe econômica corta nas verbas para educação e saúde.
Solução à vista
A forte reação de Orestes Quércia ao depoimento do ex-presidente Geisel era esperável. Apontado, em depoimento do general à Justiça, como colaborador do regime militar em votações do Senado e acusado de fraudar o Imposto de Renda no passado, sendo este o motivo do seu acordo com o regime de então, Quércia reage com a afirmação de que o depoimento foi mentiroso.
Há mais de 10 anos ficaram gravadas na imprensa, por Carlos Castello Branco, as informações sobre atitude colaboradora de Quércia, prestadas pelo líder do governo na época, senador e depois ministro Petrônio Portella. Os votos da colaboração de Quércia teriam sido todos, ou quase todos, em votações secretas. Não ficaram provas, portanto, capazes de decidir a divergência em torno deles.
O problema do Imposto de Renda, porém, é diferente. Há anos já foi publicado também, inclusive aqui, que Quércia precisou apresentar à Receita Federal várias retificações dos seus ganhos e do seu patrimônio. Se esta informação e o que o disse o ex-presidente Geisel, no mesmo sentido, não correspondem à verdade, Quércia não precisa mais do que pedir à Receita um atestado negando qualquer retificação de suas declarações de renda e patrimônio. E exibi-lo. Se puder.
La cumparsita
O ministro Rubens Ricupero encontrou em Buenos Aires o ambiente ideal para o seu tango de sempre, que entoou tão logo chegou: lamuriou-se portenhamente dos aumentos de preços na adoção do real e prometeu que não vai tolerar la traición.
Enquanto o ministro atacava de milonga, a sua cumparsita Sunab informava que encontrou, em pesquisa nos supermercados cariocas, diferenças de mais de 300% dos preços de um mesmo produto. O tango, como dizem seus apreciadores, continua imorredouro.

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