São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Deficiente prova potencial para trabalho

MARIA SANDRA GONÇALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Frente a um mercado de trabalho cada vez mais restrito, os portadores de deficiência física e mental têm ainda mais dificuldades que os demais profissionais para conseguir uma oportunidade no mercado de trabalho.
Por preconceito ou desinformação, muitas empresas negam-se a incluí-los em seus quadros. Em São Paulo, algumas entidades estão mudando essa realidade.
A Caminhando - Núcleo Espírita de Educação e Integração do Excepcional é uma dessas organizações. Ela presta assessoria gratuita a portadores de deficiência física ou mental, orientando-os para o mercado de trabalho.
Cada turma reúne 60 alunos selecionados por meio de testes com uma terapeuta ocupacional, que avalia o potencial de trabalho dos candidatos.
O curso ensina os princípios básicos das linhas de montagem. Os alunos aprendem, por exemplo, a seguir horários e regras vigentes nas empresas. O lucro das peças produzidas durante o aprendizado é repartido entre os participantes.
Mercado
Enquanto isso, os técnicos da Caminhando procuram nas empresas vagas adequadas às características e habilidades de cada deficiente do grupo.
"Estamos com a média de uma colocação por mês", afirma Cristiane Mariano, 22, assistente de direção da Caminhando.
Ela afirma que é difícil encontrar empresas abertas a esses profissionais, mas avalia que a aceitação tem sido cada vez melhor.
"Depois que contrata o primeiro, a empresa abre as portas para outros portadores de deficiência porque eles produzem tanto ou mais que os demais funcionários."
Os testes de seleção da Caminhando para novas turmas acontecem sempre às terças-feiras, das 8h30 ao meio-dia.
A Fundação Dorina Nowill para Cegos é outra entidade que presta esse tipo de assistência em seu departamento de reabilitação.
A entidade consegue emprego para pelo menos um deficiente visual por mês, afirma Ivete Masi, 50, assistente social responsável pela área de recolocação.
Direitos e deveres
Os deficientes visuais recebem orientação vocacional, noções de legislação e de relações humanas na empresa.
"Cuidamos para que saibam dos direitos e deveres do trabalhador", diz Ivete. "Queremos que sejam tratados como os outros funcionários, sem qualquer privilégio."
Na Fundação Dorina Nowill, o deficiente é quem opta pela área de trabalho na qual gostaria de atuar.
A partir daí, ele mesmo faz um levantamento de empresas do ramo que fiquem próximas à sua casa.
Com esses dados à mão, a fundação contata a empresa e tenta colocar o deficiente em áreas que não exijam controle visual.
Ivete destaca que o deficiente, como os outros trabalhadores, passa por um período de experiência na empresa. "Terminado esse contrato, ele é admitido ou não."
Ela avalia que o mercado de trabalho só vai se abrir mais para os portadores de deficiências quando o nível de conscientização dos empresários aumentar.
Por isso, em setembro, a fundação, junto com outras seis entidades, participa de um seminário sobre a qualidade de mão-de-obra do deficiente (leia texto acima).
Em Guarulhos (20 km ao norte de São Paulo), o Conselho Municipal da Pessoa Deficiente, com apoio do Fundo Social de Solidariedade do governo paulista, também promove a integração entre deficientes e empresas.
A psicóloga Silvana Mesquita, 31, presidente do conselho e também portadora de deficiência física, explica que no início as empresas se mostram reticentes. Mas com alguma insistência acabam oferecendo uma oportunidade.
O conselho atende somente os moradores de Guarulhos e tem conseguido empregar entre 15 e 20 portadores de deficiência por mês.

ONDE SABER MAIS:
Caminhando: r. Rosária Musarra, 90, Interlagos, São Paulo, SP, CEP 04775-000, tel. (011) 522-6815; Fundação Dorina Nowill: r. Dr. Diogo de Farias, 558, Vila Clementino, São Paulo, SP, CEP 04037-001, tel. (011) 549-0611; Conselho Municipal da Pessoa Deficiente de Guarulhos: r. Goiás, 42, Vila Augusta, Guarulhos, CEP 07021-150, tel. (011) 208-6347.

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