São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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47% dos pesquisadores do Brasil não publicam

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase metade dos pesquisadores do Brasil não publicou trabalhos durante três anos. Em 1993, o país gastou com pesquisa acadêmica cerca de US$ 2,2 bilhões.
"Isso equivale a US$ 1 bilhão ao ano jogado pelo ralo", disse Rogério Meneghini, da USP, na 46ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Vitória.
Meneghini baseou suas afirmações num estudo elaborado recentemente por Simon Schwartzman e Elizabeth Balbachevsky, do Nupes (Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da USP).
Segundo o estudo, há cerca de 65 mil professores em universidades públicas brasileiras. Desses, cerca de 42 mil são contratados como pesquisadores.
Cerca de 47% desses }pesquisadores ou simplesmente não pesquisaram nada no período estudado, ou então resolveram manter seus resultados em segredo.
Claro que o volume de publicações depende da ciência em questão, mas em ciência sempre vale a máxima: publique ou pereça.
Em matéria de publicação internacional, a situação brasileira parece ser ainda pior.
Para começar, Meneghini usou dados externos para avaliar a publicação brasileira no exterior.
Isso porque as instituições brasileiras que financiam a pesquisa (e, pelo menos teoricamente, deveriam avaliá-la) não têm estatísticas atualizadas acessíveis.
Nos EUA, dos cerca de 5.000 periódicos científicos catalogados no ISI (Instituto para Informações Científicas), apenas 3 são brasileiros, disse Meneghini.
E apenas 3.000 pesquisadores brasileiros (7% dos 42 mil) são autores de trabalhos citados pelo ISI.
A ciência brasileira, por volta do trigésimo lugar em número de artigos publicados, fica mais perto da posição do país no ranking de tênis do que do tetracampeonato no futebol, brincou o pesquisador.
Isso talvez seja consequência da frágil constituição dos cursos de pós-graduação e das universidades no Brasil.
Mas os laboratórios de pesquisa privados não ficam atrás: em apenas 1% deles trabalham doutores, e só em 4%, mestres.
Esse número revela que são poucos os pós-graduados que saem da universidade para o mercado de trabalho.
"A produção científica brasileira também é extremamente concentrada", disse Meneghini. Segundo ele, apenas 57 instituições são responsáveis por 87% dos trabalhos.
"É verdade que gastamos pouco em pesquisa, e é verdade que gastamos mal", concluiu Meneghini.
O quadro apresentado na reunião da SBPC é tão novo quanto a choradeira, muitas vezes fundamentada, dos cientistas por maiores verbas para pesquisas.
No Japão, Europa e EUA, os investimentos em pesquisa acadêmica chegam a 0,45% do Produto Interno Bruto (US$ 50 por habitante), contra 0,13% (US$ 3,7 por habitante) no Brasil.
Para conseguir mais recursos, a ciência brasileira vai sem dúvida ter que obter melhores resultados.

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