São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Almodóvar Voyeur do Mundo

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Almodóvar Voyuer do Mundo O diretor fala sobre a solidão, a TV e 'Kika', seu novo filme que estréia em agosto no Brasil
Ai de quem ainda vê Pedro Almodóvar como uma "moda". Com "Kika", seu novo filme, que será lançado no Brasil na segunda quinzena de agosto, o diretor espanhol prova mais uma vez que "no passará". Colado a seu estilo que já se tornou "marca registrada", Almodóvar disseca novamente os males e manias da sociedade, e segue incomodando os puritanos do mundo todo.
Em "Kika", o diretor dispara contra a solidão e o voyeurismo (e seu mais potente objeto, a TV) e faz a apologia da ingenuidade como fórmula de sobrevivência. Nos Estados Unidos, uma cena de estupro no limite da comédia causou escândalo.
O arauto da "movida" (a efervescência cultural que marcou a noite madrilenha no começo dos anos 80) continua, aos 42 anos, apostando na alegria. Este seu décimo filme é tão irreverente, erótico, romântico e verdadeiro, como tudo o que já produziu.
Sua fama, que ultrapassou as fronteiras espanholas e ganhou o mundo a partir de 1987 com "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", deve-se à sua capacidade de emocionar. E é por isso que foi tão rápida sua passagem de diretor "cult" a "pop" –e popular. Almodóvar pega o espectador por tudo o que tem de mais excessivo –estilo herdado da melhor tradição barroca e kitsch da Espanha.
Se seus cenários e figurinos são "over", os sentimentos expressos pelas personagens não são menos excessivos. Como são, aliás, o de todas as pessoas que não embarcaram no minimalismo emocional dos anos 80.
Cheios de histórias bizarras, seus personagens não deixam de ser comuns –na maneira como falam, comem ou fazem xixi de porta aberta. Vivem num mundo divertido, ultracolorido –a parte mais facilmente assimilável do "universo Almodóvar".
A crítica espanhola passou a condenar o diretor por ter criado, à custa de escândalos e jogadas de mídia, esse mundo todo seu e de mentira, que vende ao resto do planeta como se fosse a Espanha. Segundo o diretor, a inveja é um esporte nacional em seu país.
(continua)

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