São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994 |
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Memórias merecem cautela
WALTER LAQUEUR
Pavel Sudoplatov entrou para o serviço secreto soviético aos 14 anos, em 1921, e serviu-o até ser preso, após a morte de Stálin (53). Em 38, após a prisão e execução de muitos superiores, foi conduzido à chefia de }missões especiais. Nessa função, ajudou a planejar e supervisionar o assassinato de Trótski e outros emigrados. No prefácio a }Special Tasks (}Missões Especiais), Robert Conquest diz que o livro é }a mais sensacional, devastadora e a mais informativa autobiografia a emergir do meio stalinista. Sensacional o livro certamente é, mas duvido que }devastadora seja a palavra mais apropriada e o livro só é }informativo se lido com cautela. O velho adágio latino }caveat emptor (}que o comprador se acautele) deveria ser impresso na capa. O livro sofreu ataques por sugerir que importantes cientistas nucleares (Oppenheimer, Fermi, Szillard, Bohr e outros pesquisadores ligados ao Projeto Manhattan) foram agentes soviéticos. Sempre que acusações desse tipo foram feitas contra figuras do establishment, amigos saem em defesa dos acusados. Mas vale a pena lembrar que no mundo da intriga e da espionagem, é muito difícil afastar certas hipóteses. Um relato de uma fonte importante como Sudoplatov não pode ser negado de imediato. Resta saber se Sudoplatov é confiável. A julgar pela parte não nuclear de seu livro (12 dos 13 capítulos), seu histórico é dúbio. Algumas histórias soam verdadeiras, mas a maior parte dos nomes mencionados estão escritos errado. Por exemplo, o predecessor do almirante Canaris no comando do Abwehr, serviço militar de espionagem alemão, era um oficial chamado Platzig, e não }Alexander. Sabe-se que os serviços de inteligência costumam se envolver em muitos projetos estúpidos, mas a iniciativa de matar Hitler por intermédio de um playboy polonês e de uma estrela do cinema alemão é candidata ao título de complô mais estúpido de todos os tempos. A impressão que se tem dessas memórias é que o esforço principal da espionagem soviética antes de 1941 era mal orientado. As operações de inteligência soviética na Alemanha nazista eram negligenciadas e muito débeis. No geral, conduzidas por amadores. Se a União Soviética sobreviveu aos dois primeiros anos de invasão alemã, não foi graças aos seus espiões. E também não foi devido aos esforços dos guerrilheiros atrás das linhas dos invasores. A inteligência soviética teve seus sucessos, e nem tudo que o livro afirma parece errado. Mas seria preciso um comitê de especialistas para distinguir fato de ficção. A descrição do assassinato de Trótski (1940) parece autêntica, assim como a história do desaparecimento e morte de Wallenberg. Tradução de Paulo Migliacci Texto Anterior: Ucrânia tem luta pela 'coroa' Próximo Texto: EM RESUMO Índice |
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