São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
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Não é sempre que vale a pena ver de novo

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

O que George Sluizer fez não é comum na Europa e muito menos em seu país de origem. Ainda que o francês Marcel Pagnol tenha feito dois filmes de seu romance "Topaze" (em 1936 e 1951), quase sempre é um produtor americano com pouca imaginação, nenhum escrúpulo artístico e muita vontade de ganhar dinheiro fácil que aparece por trás de projetos como "O Silêncio do Lago". Não foi financiada por Hollywood a segunda versão de "...E Deus Criou a Mulher" de Roger Vadim?
Muitas vezes, o responsável pela reincidência é o próprio autor da versão original. "Gostava tanto da história que não resisti à tentação de contá-la uma vez mais no cinema falado", explicou-se Cecil B. De Mille, que já filmara "Amor de Índio" (The Squaw Man) em 1913 e 1918. No "remake" sonoro, lançado em 1931, Warner Baxter encarnava o aristocrata inglês e Lupe Velez, a sua paixão silvícola. Como também apreciava bastante as Sagradas Escrituras, De Mille levou duas vezes à tela "Os Dez Mandamentos". Um recordista, sem dúvida alguma.
Logo atrás, Frank Capra, responsável por duas refilmagens: "Nada Além de um Desejo" (Riding High, 1950) e "Dama por um Dia" (A Pocketful of Miracles, 1962). Da segunda quase todo mundo se lembra, pois era, salvo no título, um decalque (colorido) de "Lady For a Day", rodada 25 anos antes, com May Robson no papel herdado por Bette Davis. Com Bing Crosby torrando até o último centavo nas patas de um cavalo, "Nada Além de um Desejo" não tinha o mesmo charme –nem a originalidade- de "A Vitória Será Tua" (Broadway Bill), por ele realizado em 1934.
A exemplo de "Nada Além de um Desejo", a comédia de Howard Hawks "Bola de Fogo" (Ball of Fire, 1941) ressuscitou em forma de musical, sete anos depois, com o título de "A Song is Born" ("A Canção Prometida"). Sem música, era mais divertida. Também foi para recheá-la de canções que Raoul Walsh refilmou, em 1948, uma comédia que havia dirigido sete anos antes, "Uma Loura Com Açúcar" (The Strawberry Blonde), com James Cagney indeciso entre Rita Hayworth e Olivia De Havilland. Em "Recordações de Ontem" (One Sunday Afternoon), Dennis Morgan, Dorothy Malone e Janis Paige formavam o triângulo amoroso.
Não foi para transformar em musical a polêmica peça de Lillian Hellman, "The Children's Hour", que William Wyler a readaptou ao cinema em 1962. Quando a filmara em 1936, com outro título ("These Three"), a rígida censura da época o impedira de tratar o relacionamento entre as duas professorinhas de interior como devia. Ou seja, como um caso de amor homossexual. Na refilmagem, também traduzida para "Infâmia", Shirley MacLaine e Audrey Hepburn ao menos se entreolhavam com mais intensidade que Merle Obreon e Miriam Hopkins.
Salvo raríssimas exceções -vide "Tarde Demais Para Esquecer" (An Affair To Remember, 1957), refilmagem de "Duas Vidas" (Love Affair, 1938), do mesmo Leo McCarey -a segunda versão costuma ser inferior à primeira. A maioria dos hitchcockianos prefere "O Homem Que Sabia Demais" da fase inglesa (1934) ao da fase americana (1956). Não conheco ninguém que considere "Que Sabe Você do Amor" (That Uncertain Feeling, 1941) superior a "Beija-me Outra Vez" (Kiss Me Again, 1925), ambas de Ernst Lubitsch. Idem em relação às duas versões que Sidney Franklin extraiu de "The Barretts of Wimpole Street", traduzidas para "A Familia Barrett" (1934) e "O Céu em Teu Amor" (1957).
Como não vi as duas variações que William Dieterle fez de "Kismet" (em 1930 e 1944), passo batido. Tampouco vi a primeira adaptação de "The Three Godfathers", produzida em 1919 com o título de "Marked Men", mas duvido que John Ford tenha feito algo melhor que a segunda, conhecida como "O Céu Mandou Alguém " e fonte de inspiração para "Três Homens e um Bebê".

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