São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994 |
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Blur muda para sobreviver na Inglaterra
MARCEL PLASSE
Em seu terceiro disco, Blur significa clareza. O discurso ganhou foco e se tornou uma crítica ao modo de vida inglês. O álbum "Parklife", lançado agora no Brasil pela EMI-Odeon, gerou remix dos Pet Shop Boys e o maior "hype" desde Suede nas capas das publicações "modernas" da Inglaterra. Se antes a banda era alinhada ao som dançante de Manchester, agora representa o pulso de Londres, sua verdadeira base, com inspiração dos movimentos "mod" e new wave, que agitaram a capital nos anos 60 e 80, respectivamente. "Parklife" é um disco de obsessões. Carros velozes, viagens nos feriadões e loucura noturna são os temas principais. Por telefone, de Londres, o baterista Dave Rowntree confirmou à Folha, como Asterix, que os ingleses são neuróticos. Folha - O que fez a banda mudar tanto em três álbuns? Dave Rowntree - Nosso primeiro álbum não refletia nada. Se continuássemos nessa direção, o público acabaria nos abandonando. O que adianta ouvir uma banda que não tem nada a dizer? Quando "Leisure" foi lançado, a coisa mais excitante para a gente era aparecer na TV. Éramos adolescentes. Não tínhamos perspectiva nenhuma sobre a vida real. Folha - Não seria mais fácil continuar com o estilo dançante dos primeiros hits? Rowntree - É algo que não nos interessa mais. As pessoas costumavam nos relacionar com a coisa de Manchester, embora "There's No Other Way" fosse a única música dançante de "Leisure". Folha - Como foi a colaboração dos Pet Shop Boys no remix da música "Boys and Girls"? Rowntree - Mais interessante do que o remix de um produtor chato qualquer. O resultado ficou mais para Pet Shop Boys do que Blur, mas era a viagem deles. Eles nos procuraram e não queriam ser pagos para trabalhar conosco. Folha - Blur atingiu a marca do terceiro álbum, como Ride e Charlatans, mas é o único a ter críticas favoráveis. O que aconteceu com a geração de 1990? Rowntree - Acho que a maioria das bandas não mudou o suficiente para manter o interesse do público. Se você quer sobreviver, especialmente na Inglaterra, tem que se reinventar o tempo inteiro. Folha - "Parklife" traz inspiração "mod", de grupos como The Kinks e The Jam. Blur se reinventou como "mod"? Rowntree - Blur é moderno, mais do que "mod" (gíria que abrevia "modernista"). Grahan, nosso guitarrista, é "mod" desde os 12 anos. As influências são inevitáveis, mas não a ponto de classificar a banda. Folha - "Parklife" também bebe da new wave dos anos 80, como o disco do grupo Pulp. Existe um "revival" new wave? Rowntree - As pessoas da nossa idade cresceram ao som de Adam Ant, Devo, XTC e The Cars. Mas não temos interesse em reviver cadáveres. Roubamos a prataria dos mortos, mas não queremos vestir a roupa deles. Folha - As letras da banda falam sobre assuntos muito ingleses. A revista "The Face" chegou a fazer uma capa com a banda e a bandeira da Inglaterra. Como vocês lidam com o nacionalismo? Rowntree - É tediosa a mania inglesa de criar "hype" em torno das bandas. Aquela capa, por exemplo, foi uma montagem. A questão nacionalista é complicada. Não celebramos o velho orgulho inglês. Há coisas horríveis acontecendo na Inglaterra, como a miséria e a a ascensão da direita. Se nossas letras são menos universais, é porque nos preocupamos com os problemas internos e com o que significa ser jovem nessas condições. Folha - The Jam, a banda mais preocupada com esse tipo de tema e a mais popular da Inglaterra nos 80, nunca fez sucesso no exterior. O mesmo não pode acontecer com Blur? Rowntree - Inúmeras bandas podem sobreviver na Inglaterra sem se preocupar com o mercado externo. Mas já começamos a vender bem na Europa. Folha - Blur é apontado como precursor do movimento "nova onda da new wave" (new wave of the new wave). É, de fato? Rowntree - Foi nossa música "Pop Scene" (1992) que chamou a atenção para a coisa. O rótulo veio depois. Na verdade, as bandas que estão envolvidas nessa "nova onda da new wave" odeiam o rótulo, assim como as bandas rotuladas de "shoegazer" (em 1990) odiavam. Folha - Como vocês lidam com a imprensa inglesa, que cria um movimento novo por mês? Rowntree - O problema é que há mais publicações musicais do que boa música no país. O que fazer? A imprensa precisa satisfazer a demanda, porque os ingleses são obcecados pelo assunto. Texto Anterior: ENTRELINHAS Próximo Texto: "Opinião" lança bossa nova no pornô Índice |
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