São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
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Terroristas tinham base no Brasil, diz jornal

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Os serviços de inteligência israelense e britânico acreditam que a equipe que colocou um carro-bomba numa organização judaica em Buenos Aires há duas semanas, matando 96 pessoas, esteve antes baseada no Brasil, ligada à Embaixada do Irã em Brasília.
A informação foi publicada ontem pelo jornal britânico "The Sunday Telegraph", em longo artigo sobre as investigações da onda de atentados terroristas contra alvos judaicos ou israelenses em Buenos Aires, Londres e Panamá.
Segundo o artigo, os investigadores acham que "a equipe que pôs a bomba em Buenos Aires estava ligada à embaixada iraniana no Brasil antes de viajar".
"O agente brasileiro responsável pela missão na Argentina, um muçulmano xiita libanês que viajava com um passaporte falso, foi para o Líbano para se encontrar com Abdul Hadi Hamadi em meados de março", diz o "Sunday Telegraph".
Acredita-se que Hamadi seja o chefe de segurança do Hizbollah, o grupo fundamentalista islâmico libanês sustentado pelo Irã e acusado por Israel de estar por trás dos atentados.
Hamadi seria um dos principais assessores de Imad Mugniyeh, o libanês que ajudou a fundar o Hizbollah e estaria em Teerã (capital do Irã) comandando uma rede internacional de terroristas a mando do governo iraniano.
Depois do contato do "agente brasileiro" com Hamadi no Líbano, Hamadi foi para Teerã passar as informações para Mugniyeh. Depois voltou a Beirute (capital do Líbano) para dar ao "agente brasileiro" as últimas coordenadas antes de mandá-lo para a Argentina.
A preparação dos dois atentados em Londres na semana passada contra a embaixada israelense e uma instituição judaica, que feriram 19 pessoas, teriam seguido o mesmo tipo de planejamento.
Mugniyeh é chamado de "o Carlos iraniano", uma alusão ao terrorista "Carlos, o Chacal", que na década de 70 realizou vários atentados contra alvos israelenses e estaria vivendo na Síria.
Mugniyeh estaria por trás do sequestro de ocidentais no Líbano na década de 80, dos atentados contra os quartéis das tropas americanas e francesas no Líbano em 83 (matando 300) e da explosão da embaixada americana em Beirute no mesmo ano.
Após os EUA terem indicado que queriam sua extradição, Mugniyeh se mudou para Teerã, onde estaria atuando como empresário até ser convocado pela ala radical do governo iraniano para coordenar a onda de atentados contra alvos israelenses e judaicos fora do Oriente Médio.
O Mossad (serviço secreto israelense) acredita que a mulher que colocou o carro-bomba na embaixada israelense em Londres há uma semana seja uma palestina que teve seu marido e filho mortos numa operação israelense.

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