São Paulo, terça-feira, 2 de agosto de 1994
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Sobram dólares e 'black' despenca

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar paralelo despencou ontem. A cotação do dólar comercial (exportações e importações) fechou com queda de 0,75%, mas chegou a recuar 1,3%.
O dólar paralelo fechou cotado a R$ 0,92 na venda, com queda de 1,08% em relação à última sexta-feira. Esta é a menor cotação (convertida para cruzeiros reais) desde o dia 23 de junho.
No mercado comercial, a moeda norte-americana fechou a R$ 0,932 para venda (a menor desde o dia 15 de julho).
A cotação caiu porque sobram dólares no mercado. A oferta é maior do que a demanda.
No mês passado, o fechamento de câmbio das exportações superou o das importações em US$ 872 milhões. Em relação ao movimento do mês de maio (média diária), as exportações registraram queda de 34,6%, enquanto as importações cresceram 29,2%.
O fechamento de câmbio não mantém uma relação direta com o embarque de mercadorias. Os exportadores podem antecipar a venda de dólares, como aconteceu antes de julho.
As saídas financeiras foram US$ 544 milhões maiores do que as entradas no mesmo período.
Como resultado, sobraram US$ 328 milhões no mercado comercial em julho. No dólar-turismo, sobraram outros US$ 290 milhões.
O Banco Central (BC) não está comprando dólares desde o dia 4 de julho. Só os bancos atuam.
Pedro Bodin, ex-diretor do BC e, atualmente, no banco Icatu, diz que os bancos não vão poder comprar dólares "indefinidamente".
Como o mercado é estruturalmente superavitário (ferta maior do que demanda), "o movimento de câmbio aponta para uma cotação mais baixa e para um aumento da pressão para que o BC atue no mercado (comprando)".
"A prioridade número um do governo não é manter o nível das exportações neste momento. Este ano não será muito complicado. Mas a história será outra em 1995", diz Demosthenes Madureira de Pinho Neto, economista-chefe do Unibanco. Ele lembra que nos demais processos de estabilização, como o do México, Argentina e Israel, "ocorreu uma deterioração na balança comercial".
O economista se preocupa com a possibilidade, dependendo das expectativas da corrida presidencial, de um ingresso maciço de capitais para as Bolsas (empurrando mais as cotações para baixo).
Para o ex-ministro Mailson da Nóbrega, o movimento de antecipação de câmbio que antecedeu julho garante um fôlego-extra, de 60 a 90 dias, para os exportadores. "Mas, para alguns segmentos, a situação já é delicadíssima". Mailson citou o setor de calçados.
Joseph Tutundjian, da Cotia Tranding, afirma que a queda do dólar no mercado internacional contrabalança a valorização do real no curtíssimo prazo. Ele pondera que o crescimento da importações "vai depender da demanda, do custo financeiro dos estoques."
Outro ex-ministro, Ernane Galvêas, lembra que a competitividade das exportações não pode ser medida somente pelo câmbio. "A indústria ganhou 18% de produtividade em 1993."

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