São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Lula inclui manutenção do real no programa

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A manutenção do real como moeda do país agora faz parte da estratégia de campanha e do programa de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República.
A decisão foi tomada com base em pesquisas qualitativas encomendadas pelo partido.
Os trabalhos revelaram que o eleitorado, ainda que mantenha desconfiança que o Plano Real pode acabar logo após a eleição, aposta na força da nova moeda.
Lula começou a explicitar a mudança de discurso no início da noite de ontem em comício no bairro paulistano da Lapa.
"Estão espalhando que vamos acabar com o real. Mas nós vamos é colocar mais reais no bolso do povo", disse o candidato.
"O trabalho agora é para deixar claro que quem vai consolidar a moeda é Lula", afirmou o presidente do PT, Rui Falcão.
O temor de associar a candidatura Lula ao final da nova moeda é tanto que o próprio candidato comparou o "boato" aos rumores espalhados em 89 que apontavam nele a intenção de sequestar a popupança. "No final eles (o governo Collor) é que fizeram isso".
O eixo da retórica petista guarda, no entanto, uma certa dose de pragmatismo. Lula não quis dar uma nota ao Plano Real. "A questão não é de dar nota", desconversou quando solicitado a avaliar as medidas econômicas.
A cautela é motivada parte pela parcela da população que a pesquisa petista detectou estar desconfiada da duração do real. Parte também de uma análise de economistas do partido que vêem dificuldades no caminho do real.
Alguns economistas ligados a Lula acreditam que a defasagem cambial possa causar problemas na gestão do plano, assim como se vislumbra a possibilidade de o caixa do governo ser pressionado pela defasagem das tarifas públicas.
Na parte política, Lula reforçou a tentativa de qualificar a aliança liderada por Fernando Henrique Cardoso (PSDB-PFL-PTB) como a repetição da junção de forças que elegeu Fernando Collor em 89.
Os termos utilizados pelo petista foram duros. "O Fernando Henrique tem é que explicar a corja que está no palanque dele", afirmou ao citar a aliança PSDB-PFL.
Com a repetição insistente da palavra corja (grupo de pessoas desprezíveis), Lula fez em quase todas as suas declarações de ontem a ligação entre FHC e o grupo que ajudou a eleger Collor.
"O palanque dele (FHC) traz uma lembrança forte do Collor em 89", afirmou o candidato petista. A imagem do palanque será usada no horário gratuito de TV do PT.
A idéia é mostrar que FHC representa hoje todos aqueles que estiveram no poder nas últimas décadas e que, portanto, seriam os pais da crise social brasileira.

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