São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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SP apura venda de menor deficiente

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco secretarias do Estado de São Paulo criaram um banco de dados para investigar a violência praticada contra crianças e adolescentes.
"Estamos preocupados o grande número de crianças desaparecidas em São Paulo, assim como com os casos de adoção internacional irregular", diz José Antonio Pereira Neves, 27, que comanda a assessoria de Defesa da Cidadania, da Secretaria da Justiça.
O ponto mais polêmico que começa a ser, pela primeira vez, investigado oficialmente, são as denúncias de que crianças brasileiras, com deficiência física, estariam sendo adotadas em outros países, para que seus órgãos sejam extirpados.
Dados já levantados pela Polícia Federal revelam que uma criança é comprada no Brasil por US$ 8 mil, e que um rim dela arrancado pode ser vendido, no mercado internacional, a US$ 40 mil.
Para ficar a par desse assunto, a Secretaria de Justiça de São Paulo já entrou em contato com o professor Volnei Garrafa, da Universidade de Brasília, a maior autoridade brasileira sobre a questão da doação de órgãos (veja reportagem ao lado). Em setembro, Garrafa lança na Itália um livro sobre a questão do tráfico internacional de órgãos.
O novo banco de dados engloba todos esses números e será resultado de um esforço de investigações conjuntas, promovidas pelas secretarias de Justiça, Criança, Segurança Pública, Educação e Saúde.
"Nosso primeiro passo é que sejam fiscalizadas as adoções internacionais de crianças, o Brasil tem sido cobrado muito sobre esse assunto, pelas entidades internacionais de direitos humanos", revela José Antônio Pereira Neves.
O que não se sabe ao certo, hoje, é o destino das crianças que são tidas como desaparecidas em São Paulo.
Números coletados pela Folha junto à Delegacia de Pessoas Desaparecidas, da Polícia Civil de São Paulo, revelam o seguinte quadro: uma média de 42 pessoas desaparecem por dia em todo o Estado. Desse total, no mês de junho e na Grande São Paulo, 84 desaparecidos eram meninos menores de idade e 77 meninas, também, menores. No interior, no mesmo mês, desapareceram 121 meninos e 128 meninas, todos menores.
Desses números, estima-se que 80% tenham sido encontrados, ou seja: não se soube do paradeiro, em junho passado, de 82 menores que desapareceram em São Paulo.

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