São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Feira de Frankfurt expõe imagens do Brasil

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A Espessura da Luz" é o nome da exposição fotográfica que representará o Brasil na Feira do Livro, em Frankfurt, na Alemanha, de 1º a 29 de outubro.
A exposição, sob a curadoria do crítico de arte carioca Paulo Herkenhoff, 45, será realizada no Fotografie Forum, no centro de Frankfurt, e também será editado um catálogo, com cerca de 80 imagens.
Participam do evento os fotógrafos Cláudia Andujar, Luiz Braga, Mário Cravo Neto, Rosângela Rennó, Paula Trope e Miguel Rio Branco.
Embora não tenham trabalhos presentes na exposição, o catálogo incluirá trabalhos dos fotógrafos Cláudio Eddiner, Hugo Denizart, José Medeiros e Pierre Verger.
Herkenhoff explica que os artistas foram reunidos em função de trabalhos com conexões entre a construção da linguagem fotográfia e a vida.
"Eles me deram a possibilidade de demonstrar o tema e, através das imagens, evocar a realidade brasileira e a nossa responsabilidade frente a ela", diz o crítico.
O trabalho de Cláudia Andujar, de São Paulo, enfoca os índios Yanomami, em fotos tiradas entre os anos 70 e 90, em Roraima e no Amazonas.
Suas fotos em preto-e-branco foram refotografadas com a interferência de cores para dramatizar a condição em que vivem os índios.
Luiz Braga, de Belém (PA), apresenta seis registros, visualisando os "caboclos" da sua cidade, que mantém uma identidade ancestral indígena.
A ênfase do tema recai sobre a seleção de luzes e cores, que surge em diversas situações, como no pôr-do-sol ou na janela à beira de um rio.
O baiano Mário Cravo Neto focaliza a questão da identidade afro-brasileira, analisando a transformação cultural do negro. Em Frankfurt, Cravo vai apresentar uma exposição individual e lançar um livro (leia texto abaixo).
Em três instalações, a mineira Rosângela Rennó evidencia a questão do signo fotográfico e a sua dissolução como testemunha da realidade.
Em uma delas, há uma série de fotos de pessoas assassinadas, reprozida de jornais durante a ECO 92, no Rio. O painel muda a posição dos corpos, criando uma tensão em cada nova imagem.
A fotógrafa carioca Paula Trope exibe registros, que ressucitam o processo "Pin-Hole", técnica empregada nos primórdios da fotografia.
A técnica utiliza uma caixa, sem lentes e sem visor, apenas com um furo da espessura de uma agulha, por onde a luz entra, para gravar as imagens em papel fotográfico ou no negativo de um filme.
O conjunto de três fotos retrata os meninos de rua, que também usaram a caixa para fotografar objetos de sua preferência.
As fotos em cores foram ampliadas no tamanho de 1,3 m, praticamente da mesma altura dos garotos, estabelecendo assim a sensação da presença deles.
Como a caixa não tem visor, o "olhar cego" de Paula produziu a transformação estética da realidade e a distorção da perspectiva das imagens.
Miguel Rio Branco, que trabalha na agência fotográfica Magnum, de Paris, produziu cenas de flagrantes urbanos e rurais que se articulam pela forma e pelos detalhes de cor.
Para Herkenhoff, além da troca de conhecimentos, a mostra trará um diálogo mais específico sobre as produções brasileira e européia.
Como a exibição foi criada para ser itinerante, poderá também ser apresentada, no próximo ano, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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