São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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Na garganta

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada mais revelador do que a cobertura da Globo para a troca de Guilherme Palmeira por Marco Maciel. A rede pefelista só deu o escândalo –que era manchete em toda parte, na televisão– quando já havia definido a saída do vice de Fernando Henrique.
Ainda assim, o Jornal Nacional, no primeiro dia, saiu misturando tudo numa suposta crise dos vices –incluindo Aloizio Mercadante, com história inventada na hora. No segundo dia, ontem, trocaram a bobagem sobre Mercadante por uma carta de José Paulo Bisol –como nuvem de fumaça.
Mas o melhor estava por vir. Resguardado um pefelista, era preciso limpar o outro.
Daí os argumentos lançados da boca de uma repórter da Globo: Maciel tornou-se um político que não perde eleição e, mais ainda, um homem que foi chamado por Tancredo Neves para vice. Era o sinal para vestir de democrata um líder do regime militar.
O argumento da Globo ecoava, pouco depois, na boca de FHC –na rádio Jovem Pan, o tucano, tenso como em todas as vezes em que apareceu ontem, defendeu o novo vice dizendo que o próprio "Tancredo Neves queria Marco Maciel como seu vice".
Também afirmou que "não foi imposição, mas uma indicação", com a voz tensa, engasgada. Mais tarde, no TJ –depois de posar ao lado do vice, só com pefelistas– diria ainda: "Ele tem um passado diferente do meu, mas isso não me incomoda". Tenso.
FHC, que vinha tão bem, que crescia em poder diante do PFL, não tem como esconder que está com o vice preso na garganta.
Firme, na propaganda
Depois de ceder facilmente para pefelistas e Globo, abrir o horário eleitoral com uma palavra como "firme" não soa sincero. Firme, honesto, competente são adjetivos em que o tucano vai insistir, em jingle. Até que FHC parecia firme, ontem. Mas só na propaganda, na televisão. Não na realidade.
Fantasma de Collor
A aparição de Fernando Collor no horário eleitoral do PRN, na noite de ontem, foi anticlimática. Deposto, um meio cidadão que não pode sequer votar, estava de dar pena. Nada que justificasse o temor geral de antes.
Falou o tempo todo em Deus, Nossa Senhora, orações, em fé. Falou do próprio discurso como "palavras de alguém sofrido, machucado pela calúnia, atingido e humilhado pelas injustiças". Foi patético, não perigoso.
Contou, algo ridículo, "hoje completam-se quatro anos, quatro meses, 20 dias de meu mandato". Sem trocadilho, um fantasma.

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