São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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Ruanda quer julgar 30 mil por massacres

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro-ministro de Ruanda, Pasteur Bizimungu, afirmou que o governo quer julgar 30 mil pessoas, "sem contar integrantes de milícias" por participação em massacres contra a minoria tutsi.
Bizimungu afirmou em entrevista publicada pelo jornal francês "Le Monde" que o governo está empenhado na reconciliação nacional, mas que a "reconciliação não pode ser construída sobre impunidade".
"Nossa lei cobre esse tipo de crime e não podemos esperar pela criação de uma corte internacional, o que poderia demorar três anos", afirmou o premiê.
"A pena para crimes desse tipo é a morte por fuzilamento", disse.
O assessor especial dos EUA para Ruanda, Brian Atwood, disse na semana passada que Bizimungu havia concordado com a criação de um tribunal internacional para julgar crimes de guerra.
Estima-se que cerca de 500 mil pessoas tenham morrido em massacres praticados por hutus contra tutsis durante o conflito.
Mais de um milhão de ruandeses que estão em campos de refugiados no Zaire resistem em retornar a Ruanda por temerem represálias do novo governo.
A ONU responsabiliza integrantes do governo deposto de Ruanda e os cerca de 20 mil soldados do Exército derrotado de espalharem pânico nos campos, afirmando que os refugiados, serão mortos se retornarem ao país.
A vitória dos tutsis na guerra civil, em meados de julho, causou a fuga de cerca de um milhão de hutus para o Zaire.
Mais de 20 mil pessoas morreram por causa de epidemias (de cólera e disenteria) e outras doenças nos campos de refugiados.
Funcionários da ONU se reuniram com líderes comunitários para convencê-los a voltarem para Ruanda. Um porta-voz da ONU disse que não houve grande êxito. Ele estima que 90 mil refugiados tenham retornado ao país.
Funcionários da ONU captaram ontem transmissões de uma rádio hutu, que estaria colocando no ar mensagens instigando a violência.
Um grupo francês iniciou ontem transmissões de Goma para estimular refugiados a voltarem.
Autoridades do Zaire e representantes da ONU fizeram ontem um acordo para melhorar a segurança no aeroporto de Goma.
Os suprimentos que chegam para os refugiados têm sido roubados por soldados do Zaire e civis.
O governo também pretende colocar os soldados do Exército derrotado de Ruanda em uma área separada dos outros refugiados.
O comandante das tropas da ONU em Ruanda disse ontem que não sabe se terá soldados suficientes para substituir os franceses no patrulhamento das zonas de segurança no sudoeste do país.
A saída dos franceses está prevista para o dia 22 deste mês. Agências humanitárias temem que haja outro êxodo caso a segurança nas áreas não esteja garantida.

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