São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Famosas e ricas vão à luta com Ruth em SP

FERNANDO DE BARROS E SILVA ; JOYCE PASCOWITCH
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nessa eleição temos duas opções: votar em Jean-Paul Sartre ou escolher um encanador". Foi com essa frase, diante de 80 mulheres, que a atriz e empresária Ruth Escobar abriu seu discurso no almoço que ofereceu a Ruth Cardoso, mulher do presidenciável Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na última terça-feira.
Escobar atribuiu sua frase ao cineasta e articulista da Folha Arnaldo Jabor. Segundo ela, Jabor teria pronunciado num jantar semanas antes. Presente ao almoço, a mulher de Jabor, Suzana Villas Boas, não contestou a versão.
O francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo, dramaturgo, romancista e ativista político, seria, na boca de Escobar, Fernando Henrique, formado em sociologia pela USP. O encanador, no mesmo contexto, seria o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que é torneiro mecânico.
O almoço de Ruth Escobar a Ruth Cardoso reuniu uma amostra considerável da chamada "alta sociedade" paulistana. Artistas, escitoras, empresárias, mulheres de empresários e banqueiros, estilistas, marchands e socialites.
Aproximava todas as mulheres, além das bolsas de marca Chanel ou Hermès e dos tailleurs em profusão, o objetivo comum de emprestar seu prestígio social à candidatura de Fernando Henrique.
A atriz Regina Duarte, convidada a discursar, retomou a comparação inicial de Escobar. Disse que FHC é de fato "um Sartre". Fez menção à sua erudição, lembrou que o acompanha desde 78, na campanha para o Senado, e que o considera o homem ideal para presidir o país.
Depois, veio a ressalva. "Não tenho nada contra os encanadores. Cada um tem o seu valor naquilo que faz", disse a atriz.
Pessoas próximas a Ruth Cardoso disseram que ela teria ficado constrangida com a comparação feita por Escobar e retomada por Regina Duarte. Ruth, que é antropóloga, sempre viu o PT e Lula com bons olhos, embora faça restrições ao partido e seu candidato.
No discurso que fez, durante cerca de 15 minutos, a mulher de FHC evitou fazer críticas aos adversários de seu marido.
Séria e didática, sabendo que falava para uma platéia de leigas, Ruth fez uma biografia sumária do marido e voltou a dizer que não aceita o estigma de ser vista como primeira-dama, expressão que rejeita para si de forma insistente.
Ruth não pediu colaborações em dinheiro às presentes, mas solicitou a ajuda de todas, convidando-as a integrar o comitê feminino da campanha do marido. Durante o almoço, foram distribuídos kits com adesivos, buttons e panfletos.
Presente ao almoço, a escritora Lygia Fagundes Telles foi uma das mais falantes. A certa altura, se dirigiu a apresentadora Hebe Camargo, sentada à sua frente, sugerindo que usasse o espaço que tem na TV para promover o tucano.
"Tem uma pessoa aqui com grande poder de persuasão que poderia começar a falar do Fernando no programa dela", disse Lygia, apontando o dedo para Hebe.
Malufista histórica, Hebe Camargo não se pronunciou e deixou a casa de Ruth Escobar em silêncio, antes de o almoço ser servido.
Escobar serviu às convidadas saladas, salmão fresco, risoto de shitaki, carne seca desfiada e polenta cozida. Na sobremesa, comeram sorvete com morango e calda.
A mesa foi decorada em verde e amarelo, com folhas de espigas de milho abertas e farinha de milho espalhada sobre a toalha.

Estavam no almoço, entre outras: Rosa Goldfarb, Susanna Lemann, Deise Setúbal, Maria Helena Gregori, Dalva Gasparian, Roberta Matarazzo, Lygia Fagundes Telles, Hebe Camargo, Rose Bratke, Gabriela Machline, Rose Benedetti, Vanda Jacinto, Sônia Matarazzo, Beatriz Monteiro de Carvalho, Regina Duarte, Myriam Abicair, Clô Orozco, Regina Boni, Raquel Arnaud, Vânia Toledo, Alice Carta, Maria Adelaide Amaral, Leilah Assumpção, Mary Nigri, Malu Bresser Pereira, Costanza Pascolato, Mitiko Ogura, Carmo Sodré, Suzana Villas Boas, Ana Amélia Saldanha da Gama e Wilma Motta.
Colaborou JOYCE PASCOWITCH

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