São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Lula tem liderança entre "descamisados"

ANTONIO MANUEL TEIXEIRA MENDES
DIRETOR-EXECUTIVO DO DATAFOLHA

Os observadores mais atentos dos resultados das pesquisas eleitorais sabem que o apoio a Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é maior entre eleitores de maior renda e maior escolaridade, ou seja, quanto mais instruído e mais bem remunerado o eleitor, maior a inclinação por sua candidatura.
Se esse perfil é nítido no caso de FHC, o mesmo não acontece com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem apoio estatisticamente homogêneo nos diferentes grupos de escolaridade e renda. No entanto, informações sobre a participação no mercado de trabalho ajudam a caracterizar melhor os eleitorados dos dois principais candidatos.
Embora o PT seja reconhecido como expressão mais organizada e politicamente ativa dos trabalhadores, a vantagem de Lula sobre FHC é muito maior, justamente, nas faixas dos trabalhadores situados à margem das relações formais de trabalho, os "descamisados" que ajudaram Fernando Collor a derrotar Lula na campanha de 1989.
A tabela ao lado mostra que é entre os eleitores situados no ponto mais baixo da pirâmide social e nas franjas do sistema político –os assalariados sem carteira e autônomos não estabelecidos com renda familiar até cinco salários mínimos e escolaridade até 1º Grau– que Lula encontra hoje os votos que ajudam a garantir seu empate estatístico com FHC. Nesse segmento Lula tem 11 pontos percentuais à frente do candidato tucano.
Já entre os assalariados com carteira, funcionários públicos e autônomos estabelecidos, a distância é bem menor entre as duas candidaturas. Sendo que, entre os de renda e escolaridade mais baixas, a vantagem é a favor de Lula e, entre os de maior renda e escolaridade, a favor de Fernando Henrique Cardoso.
Na população economicamente ativa a maior diferença entre as candidaturas se verifica na categoria dos empregadores: 43% a 25% a favor de FHC.
Entre os eleitores que estão fora da população economicamente ativa –basicamente aposentados e donas-de-casa – o que mais chama atenção, conforme o esperado, são as altas taxas de eleitores que não escolheram candidatos: 21% entre os aposentados, chegando a 26% entre as donas-de-casa. Entre estas há empate estatístico dos dois candidatos, mas, entre os aposentados, é muito maior a indicação por FHC (37% a 26%).
É com essa distribuição das preferências que os candidatos iniciam o horário eleitoral gratuito. Mas os estrategistas políticos sabem que a grande disputa será pela maioria mais pobre e menos instruída, tradicionalmente mais instável em suas opções e mais sujeita a mudanças de última hora.

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