São Paulo, sábado, 6 de agosto de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Esqueça-nos, general Luiz Caversan LUIZ CAVERSAN
A declaração resumia toda a inapetência do general com o comando de uma nação. Ele nunca gostou de ser presidente e isto ficava claro em cada ato ou declaração sua. Até nesta última, porque qualquer presidente que se preze irá sempre querer ser lembrado pelos benefícios que eventualmente proporcionou ao seu país e a seus concidadãos. Pois bem, passados quase dez anos, evoco aqui a condição de cidadão que teve de engolir todos os 21 anos de regime militar para solicitar: general, quero que o senhor nos esqueça. A solicitação, que poderia ser perfeitamente dispensável, vem a propósito do retorno do militar aposentado à mídia, agora posando de cabo eleitoral do também militar aposentado Newton Cruz, candidato ao governo do Rio (leia mais a respeito no caderno Supereleição). Ontem no Rio, Figueiredo retomou sua idéia fixa de que se aproxima uma "pororoca social", conturbação incontrolável que irá conduzir o país ao caos. Ora, o que de mais conturbador ocorreu na história deste país –isto sim digno de ser comparado à convulsão das águas na foz do rio Amazonas– senão o movimento patrocinado por Figueiredo, Cruz e seus pares a partir de 1964? Pouca, muito pouca coisa causou tanto mal. Suspensão dos direitos civis, fechamento do Congresso, censura, violência, tortura e morte. Quem viveu sabe que estes foram os argumentos com que os militares contemplavam todos aqueles de quem discordavam; aos que não se submetiam. Agora volta Figueiredo com sua pororoca e seu discurso apocalíptico. Nada que interesse à democracia e à liberdade que o país vive hoje. Portanto, general, nos esqueça e desfrute sua aposentadoria. Texto Anterior: Surpresa Próximo Texto: Quércia continua na frigideira Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |