São Paulo, sábado, 6 de agosto de 1994
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Quércia continua na frigideira

Gilberto Dimenstein

GILBERTO DIMENSTEIN
RIO DE JANEIRO

Atolado nas pesquisas de opinião, Orestes Quércia está sentado numa frigideira preparada por seu próprio partido.
Os "cozinheiros" do PMDB imaginavam que, ontem, depois do julgamento no Superior Tribunal de Justiça, serviriam um banquete. Prato principal: candidato frito. Engano –o candidato continua na frigideira, mas tiveram de adiar o banquete.
Foi uma extraordinária vitória para Quércia. Por esmagadora maioria, livrou-se da denúncia de estelionato, patrocinada pelo Ministério Público. Pergunta essencial: é o suficiente para uma reviravolta na sucessão presidencial?
Ressalva obrigatória: a história de Quércia é a história do sucesso eleitoral. Começava por baixo, desacreditado. Humilhado até. Virava o jogo, manuseando com eficiência a televisão. Daí merecer, no mínimo, atenção.
Mas, por enquanto, não há indícios de que ele, desta vez, dê a volta por cima. Com o prestígio do Plano Real, a tendência de Fernando Henrique é o segundo turno. Ele, aliás, tem espaço para crescer ainda mais.
Não é impossível, claro. É muito difícil, porém, Luiz Inácio Lula da Silva ficar abaixo dos 20%. As pesquisas mostram que Lula tem um eleitorado cristalizado. Suas chances de acabar na reta final são enormes.
Óbvio que um fato novo é capaz de implodir a ordem nas pesquisas. A descoberta, por exemplo, de algo terrível sobre a Lula ou Fernando Henrique. Mais hipóteses: 1) ruína do Plano Real, elevando abruptamente os preços; 2) recessão que jogue na rua milhões de trabalhadores no desemprego. Duas hipóteses remotas.
As principais lideranças do PMDB, com ou sem condenação do STJ, não vão apoiar Quércia. Neste grupo estão Antônio Britto, Pedro Simon, Roberto Requião, José Sarney, Wilson Martins e por aí vai. Só por um milagre voltariam a apoiá-lo.
Para complicar ainda mais, o horário eleitoral este ano tem inúmeras limitações técnicas. Está bem menos atrativo, imerso numa poluição de promessas –e, até aqui, os mirabolantes planos de desenvolvimento do ex-governador são mais uma delas.

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