São Paulo, sábado, 6 de agosto de 1994
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Passado, presente e futuro

Clóvis Rossi

CLÓVIS ROSSI
CURITIBA

Fernando Henrique Cardoso está usando um argumento próximo da indigência para se defender das críticas ao passado do PFL como aliado do ciclo militar e dos governos Sarney e Collor.
"Não se pode fazer política olhando para o passado", tem dito o candidato tucano-pefelista. Bobagem. Na política como na vida, ou se olha para o passado ou se está condenado a repetir erros eventualmente cometidos.
Mas, só para argumentar, vamos aceitar o estapafúrdio argumento. Vamos, então, olhar para o presente. Faz poucos meses, o principal cacique do PFL, o ex-governador Antônio Carlos Magalhães, insinuou, em encontro com empresários paulistas, um golpe militar se Lula vencer a eleição, meros seis meses após a posse.
Esse é o ponto: o golpismo de caciques do PFL não é algo escondido em algum lugar do passado. Lateja forte ainda hoje, de olho no futuro.
Ora, qual é o julgamento que o próprio FHC faz do desempenho desses sucessivos governos em que o PFL (com esse nome ou outro) esteve profundamente incrustrado? Em comício domingo passado em Chapecó (SC), Fernando Henrique jogou a culpa da crise brasileira "na politicalha, no clientelismo e na incompetência dos governos".
Já seu coordenador de programa de governo, Paulo Renato de Souza, em data algo mais recente (quarta-feira) considerou a crise brasileira como "a mais profunda da história econômica do país neste século".
Mas, atenção, leitor, não se trata de incongruência de FHC. Pela nova sociologia que esse suposto Sartre tupiniquim está inventando, tanto o domingo como a quarta-feira desta semana já devem ser datas muito remotas, que, como tal, têm que ser remetidas ao tal passado para o qual não se deve olhar.
Coerência é coerência.

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