São Paulo, sábado, 6 de agosto de 1994
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Realismo em um mundo inóspito

FÉLIX PEÑA

Estão dadas as condições para coroar a transição com os resultados imaginados pelos negociadores do Tratado de Assunção: a) união alfandegária, com modalidades próprias, confirmando o caminho rumo ao desenvolvimento do mercado comum; b) centenas de empresas e investidores ajustando suas estratégias no espaço econômico comum, estimulados pela expansão do comércio recíproco.
Não são as condições ideais: estas nunca acontecem na vida real. Apenas na teoria: seja em matéria de integração, de estabilização econômica ou de democracia.
Mas são as condições mínimas suficientes: a) percepção de desafios e oportunidades colocados pela tensa transição a um mundo globalizado e de agressiva concorrência econômica entre grandes blocos regionais, b) forte vontade política, c) fundamentadas expectativas de estabilidade macroeconômica e de criação de condições sistêmicas para a competitividade e d) empresas dispostas a tirar proveito do mercado ampliado.
No final do ano se concluirá apenas uma etapa no caminho rumo ao desenvolvimento pleno do mercado comum. O acesso aos respectivos mercados será irrestrito e haverá tarifa externa comum.
Haverá exceções. Não é o ideal. Mas é o realístico, se elas forem: a) limitadas; b) temporárias; c) de eliminação automática, e d) a contrapartida da reconversão produtiva do subsetor ou produto objeto de exceção.
As exceções não devem proteger ineficiências. Sua legitimidade pode ser derivada apenas da inversão e da modernização tecnológica.
O importante do Mercosul é seu sentido estratégico. Nossos países decidiram trabalhar juntos, para estimular os investimentos e melhor concorrer e negociar no mundo.
A metodologia deve ser flexível e heterodoxa. Não se trata de aplicar receitas. Trata-se, em contrapartida, de: a) gerar uma situação em que todos possam ganhar: b) responder a interesses nacionais concretos, e c) reconhecer o dinamismo das realidades internas e mundiais.
Não seria inteligente frear o Mercosul. É preciso cumprir os prazos. Eles são viáveis e não se deve prejudicar a credibilidade diante dos investidores e dos cidadãos. Os interesses afetados podem ser atendidos com políticas de reconversão. Excepcionalmente com exceções.
O Mercosul é uma proposta realista. Para que seja eficaz, o importante é que em cada país, governo e empresários, num marco de democracia e coesão social, trabalhando em conjunto, o utilizem para sustentar sua transformação produtiva e sua inserção competitiva num mundo inóspito para os solitários.

(Tradução de Clara Allain)

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