São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Pancararus criam o S.O.S. Índio Favelado

DA REPORTAGEM LOCAL

Os pancararus formam uma "rede de solidariedade" nas favelas de São Paulo. Há três anos, eles criaram o S.O.S. Índio Favelado, "entidade" mais de auxílio do que de reivindicação.
É comum os pancararus que chegam do Nordeste ficarem hospedados nos barracos de amigos ou parentes até conseguirem autonomia.
Os índios que já vivem em São Paulo também ajudam os companheiros a encontrar emprego.
O auxílio é fundamental. Com a carteira profissional em branco, eles só conseguem trabalho através da indicação de amigos.
A maioria sobrevive dos salários da construção civil, principalmente das construções de prédios no bairro do Morumbi.
Mas há índios trabalhando também como porteiros e vigias e, as mulheres, como costureiras. Muitos estão desempregados.
Quando procuram emprego, os pancararus não contam que são indígenas para evitar discriminação. E a identidade cultural passa desapercebida. Os pancararus que vivem em São Paulo são mestiços –com peles branca ou preta.
Os rituais religiosos não são frequentes nas favelas por falta de espaço. Nas aldeias em Pernambuco, os pancararus celebram a fé em danças, vestidos em roupas feitas de sisal e maquiados.
Na favela Real Park, eles costumam se reunir uma vez por semana, nos próprios barracos, sob a liderança de Fernando Monteiro dos Santos, 25.
Santos faz o papel de pajé na favela. É o mais religioso de todos.
A crença dos pancararus se parece com o candomblé. Eles acreditam na existência de "encantados", aos quais invocam para acessar Deus. Os "encantados" são espíritos que incorporam nos vivos durante os cultos.
Nos barracos do Real Park, os pancararus ostentam arcos, flexas, maracá (cabaça com pedra dentro), "campiôs" (cachimbos em forma de cone) e, principalmente, o praiá, um boneco de corda que simboliza o deus do grupo.

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