São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Estudo mostra 'neura' de trabalhar em casa

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O teletrabalho –uso de tecnologias de informação e comunicação para trabalhar em casa– é visto cada vez mais como uma oportunidade de deixar ambientes desagradáveis e horários estressantes.
O teletrabalhador, com o fax e o computador, muitas vezes aspira controlar seu tempo e mobilidade ao trocar o escritório pela casa.
Mas pesquisa publicada no Reino Unido ("Teleworking in the 90's –A view from the home", de Leslie Haddon e Roger Silverstone, Universidade de Sussex) revela que a mudança pode ser ruim.
Entre os principais problemas estão a perda do convívio coletivo, a falta de estímulo de parceiros ou chefes, dificuldades de ter folgas e perda de autoestima quando o trabalho, por ser feito em casa, não é visto como "sério".
Os autores estudaram 21 casos. As mulheres aparecem como mais afetadas. Muitas optam pelo trabalho em casa para poder ficar mais tempo com os filhos. Mas na prática os filhos muitas vezes acabam tendo preferência ante o trabalho.
Para quem pensa que poder escolher a hora de trabalhar é um atrativo, o estudo diz que isso é "a receita para o desastre", com as tarefas ficando para a última hora.
A falta de parceiros pode diminuir a motivação. Ao perder seu principal cliente, a contabilista Joyce Miller, 38, perdeu parte do incentivo para trabalhar. "Não havia pressão", disse Miller.
Há ainda problemas de espaço e tempo. O teletrabalhador quase sempre se instala no canto de um quarto ou na mesa de jantar.
Como fica em casa, clientes recorrem a ele fora do horário usual de serviço. "Não vejo mais minha casa como local para relaxar", diz o consultor John Rice. "O telefone toca de repente e eles não aceitam um não como resposta", diz Tom Robbens, 38, vendedor de livros.
Segundo o estudo, o isolamento é uma das maiores ansiedades ligadas ao teletrabalho. Além de perder o convívio do trabalho coletivo, ele costuma se isolar dentro da casa para trabalhar sossegado.
Apesar dos problemas, a utopia da mobilidade do tempo e local de trabalho é cada vez mais real.
No Reino Unido, dos 3,1 milhões de trabalhadores autônomos, cerca de 2,1 milhões são teletrabalhadores. Até o ano 2000, um terço da força de trabalho poderá trabalhar ocasionalmente em casa.

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