São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994 |
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Suspense e terror nos confins dos Andes
JOSÉ GERALDO COUTO
Com 'Lituma", Vargas Llosa retoma literatura Depois de uma incursão fracassada na política –foi candidato derrotado à presidência do Peru em 1990– e de uma série de obras pouco inspiradas, Mario Vargas Llosa, 58, recupera, com o romance "Lituma nos Andes", a condição de um dos grandes narradores realistas da América Latina. Como em seus melhores livros –"Batismo de Fogo", "Conversa na Catedral", "Tia Julia e o Escrevinhador"–, aqui também uma trajetória pessoal se cruza com a história recente do Peru. Lituma é um cabo da Guarda Civil responsável por um posto de defesa junto a uma estrada em construção nos confins dos Andes. Sob a ameaça constante de um ataque terrorista, Lituma passa seu tempo naquele fim de mundo ouvindo as histórias de seu ajudante, o jovem Tomás Carre¤o –sobretudo seu drama de amor com uma prostituta mais velha. Com sua habitual perícia narrativa, Llosa mistura o cotidiano dos dois policiais à história de amor contada por Carre¤o, episódios de terrorismo político e casos de feitiçaria relatados pelos índios ou meio-índios que vivem acampados em função da estrada. O fio que mantém o relato tenso até o final é a investigação de desaparecimentos misteriosos de pessoas na região do posto policial. Há, portanto, um apelo de livro policial e de suspense em "Lituma nos Andes". O que faz a diferença entre o romance de Llosa e um best-seller rotineiro –além, é claro, da densidade da caracterização dos personagens e do estofo histórico-cultural– é a extrema inventividade da narração. Passa-se de um tempo a outro, de um espaço a outro, com uma liberdade sem limites, às vezes no meio de um diálogo. Um personagem diz uma coisa hoje, no meio da selva, e a aparente resposta é dada não pelo seu interlocutor atual, mas por outro personagem, em outro local, anos antes. Essas mudanças vertiginosas de contexto e ponto de vista fazem da leitura um prazer renovado a cada página. "Lituma nos Andes" venceu na Espanha o prêmio Planeta de literatura de 1993. Llosa inscreveu-o no concurso usando o pseudônimo Dionisio, mas os jurados não devem ter tido dificuldade em identificar o verdadeiro autor: o personagem Lituma veio ao mundo no romance "A Casa Verde", publicado pelo escritor no longínquo ano de 1966. Texto Anterior: O mestre, amor e demônios Próximo Texto: Schulz é o Kafka polonês Índice |
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