São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Sensação cerca bactéria assassina

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sensação cerca bactéria "assassina"
Nos fins de maio e nos meados de junho a população da Inglaterra e dos Estados Unidos foi abalada pelo que se apresentava como ominosa notícia: um pequeno surto de doença provocada por estreptococo invasor do grupo A.
Embora o alastramento do mal não parecesse calamitoso, a rapidez de sua evolução e a letalidade de alguns casos contribuíam para que a imprensa sensacionalista divulgasse tratar-se dos primórdios de gravíssima pandemia.
Isso foi logo contestado pelos médicos, que informaram tratar-se de doença já conhecida e curável se atacada em tempo.
Os estreptococos são micróbios que parecem microscópicas bolinhas (cocos), que se apresentam em pares ou em cadeias mais ou menos longas.
Muito difundidos na natureza, ocorrem como formas saprófitas, que se desenvolvem livremente na matéria orgânica, e como formas patogênicas, que causam muitas doenças no homem e nos animais.
No homem podemos citar a angina, a dor de garganta, a erisipela, a escarlatina, certas glomerulonefrites, endocardites, febre reumática etc.
Há dois meios principais para classificar esses germes. Um baseia-se no aspecto das colônias formadas em meio de ágar-sangue (o ágar é um gel oriundo de algas usado como meio de culturas de microorganismos).
Por esse meio se distinguem três tipos: o alfa, ou "viridans", com anel esverdeado em torno das colônias, o beta-hemolítico, que forma halo transparente, sem sangue, e o gama, ou inerte, que não altera o meio de cultura.
O segundo meio de classificação é o sorológico, desenvolvido por Lancefield. Por precipitação com soros específicos, foram identificados vários tipos estreptocócicos que são designados por letras maiúsculas (A, B, C etc).
Os estreptococos produzem toxinas, enzimas e outras substâncias.
Uma das enzimas é a conhecida estreptocinase, usada em terapêutica por sua capacidade de dissolver os coágulos sanguíneos.
Os bacteriologistas dispõem de recursos para distinguir os saprófitos dos patogênicos, os de animais dos humanos.
Os estreptococos hemolíticos A produzem no homem processos supurativos diversos, que às vezes promovem graves complicações.
A tendência atual é designar todos os estreptococos hemolíticos humanos pelo nome geral de Streptococcus pyogenes.
A doença que tanto alarde criou em Gloucestershire (Inglaterra), e depois nos EUA, é provocada por um raro estreptococo A que geralmente penetra por algum ferimento.
Se ela não for adequadamente tratada a tempo, pode invadir os tecidos e literalmente destruir a carne e a gordura do corpo (causando a chamada fasciíte necrotizante).
Logo no início a doença se apresenta como gripe, que se acompanha de febre muito alta e, eventualmente, de dramático quadro de baixa de pressão, escarlatina e morte.
O curioso nesse micróbio é que ele contém um vírus que faz o germe produzir violenta toxina que contribui para os dramáticos resultados.
Essa variante do estreptococo A ataca anualmente cerca de 15 mil pessoas nos Estados Unidos, onde a mortalidade anual é de umas 3 mil pessoas.
O tratamento da doença, quando prontamente reconhecida, consiste no uso de antibióticos e na cirurgia para limitar a devastação dos tecidos.
Esse germe foi a causa das epidemias de escarlatina nas décadas de 30 e 40, épocas em que já se registraram casos de fasciíte necrotizante.
A doença em geral se autolimita, porém alguns especialistas acham que ela está se espalhando. Mas sugerem que não se trata de uma tendência epidêmica, e sim de um ciclo recorrente.

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