São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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PRI vai fraudar as eleições, diz analista

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
DA REDAÇÃO

Para Jorge Castañeda, um dos analistas políticos mexicanos mais repeitados internacionalmente, haverá fraude nas eleições presidenciais do México do próximo dia 21. "É fato que haverá fraude."
O PRI (Partido Revolucionário Institucional), que governa o México desde 1929, enfrenta as eleições mais difíceis de sua história.
"Haverá júbilo" se o partido perder as eleições, disse Casta¤eda à Folha.
O país enfrenta sua mais grave crise política, marcada pelo levante armado dos guerrilheiros zapatistas, em janeiro, e pelo assassinato do candidato original do PRI, Luis Donaldo Colosio, em março.
Algumas pesquisas de opinião dão vantagem ao candidato Diego Fernández de Cevallos, do PAN (Partido da Ação Nacional, de centro-direita).
Casta¤eda rechaça os resultados de todos os levantamentos. Para ele, as pesquisas que apontam vitória do candidato governista são "encomendadas" e as que dão vantagem a Fernández não têm confiabilidade técnica.
Ele calcula que a diferença entre o primeiro e o terceiro colocado não vai passar de 8% dos cerca de 45,7 milhões de votos.
Mas, apesar dos problemas políticos, diz Castañeda, o principal desafio que o próximo presidente vai enfrentar é reviver a economia.
Castañeda é colunista da revista americana "Newsweek" e um dos assessores do candidato Cuauhtémoc Cárdenas (PRD, Partido da Revolução Democrática, de centro-esquerda).
Ele falou à Folha anteontem por telefone de seu escritório na Cidade do México. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - Há um clima de incerteza sobre o panorama eleitoral. Cada pesquisa aponta um vencedor. Por quê?
Jorge Castañeda - Há grande incerteza porque o processo eleitoral é uma novidade. Não há condições para medir o estado de ânimo do povo. É difícil saber quem vai ganhar.
Há pesquisas que dão Zedillo em grande vantagem, mas nessas eu não acredito, porque acho que são encomendadas pelo candidato e pelo próprio PRI.
Há outras que dão pequena vantagem a Cevallos, mas essas também são falhas por causa da falta de recursos dos institutos que as realizam. E creio que as pessoas que vão votar em Cárdenas têm medo de declarar seu voto.
Folha - O sr. acredita na possibilidade de fraudes?
Castañeda - É um fato que haverá fraude. O processo eleitoral não foi equitativo. Não houve acesso igual pelos candidatos aos recursos financeiros e à mídia. Principalmente por causa da relação entre o PRI e o Estado mexicano, que é de simbiose. Além disso, há grande possibilidade de fraudes em muitas partes do país.
Folha - Há possibilidade de evitar estas fraudes?
Castañeda - Não, porque é muito tarde. Apesar de o presidente (Carlos) Salinas dar sinais de estar comprometido com a realização de eleições limpas, todas as operações já estão em marcha: os governadores, os prefeitos, os dirigentes locais do PRI.
Mas o importante é saber qual a magnitude desta fraude, se será decisiva ou não, se influenciará no resultado final da votação.
Folha - O sr. teme convulsão social em caso de derrota de Zedillo?
Castañeda - Não, claro que não. Haverá júbilo no México. A população quer a derrota do PRI. Há clara vontade de mudanças.
Folha - E se o PRI vencer?
Castañeda - Vai depender das margens de diferenças entre os candidatos, que eu acho que vai ser muito pequena. Estimo que será de, no máximo, 7% a 8% entre o primeiro e o terceiro colocado.
Folha - O sr. acha que haverá mudanças da política mexicana em relação ao Nafta (acordo de livre comércio na América do Norte) se a oposição vencer?
Castañeda - Não, creio que o Nafta já é um fato consumado. Mas qualquer um dos candidatos que ganhar pedirá pequenas alterações. Certamente Cárdenas e Diego as pedirão, assim como Zedillo.
Folha - O zapatismo será o principal desafio do próximo presidente?
Castañeda - Não, há pelo menos outros dois ou três problemas que vêm antes.
Folha - Qual é o principal?
Castañeda - O principal é fazer a economia voltar a crescer. Há 12 anos ela está estagnada, sem crescer de maneira sustentada. Este será o principal desafio do próximo presidente mexicano.

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