São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Salinas diz que eleição vai ser a mais limpa da história

FERNANDO ORGAMBIDES
DO "EL PAÍS"

O presidente Carlos Salinas de Gortari, 46, reconhece as enormes mudanças políticas pelas quais seu país passou e quer garantir que as eleições serão as mais limpas da história mexicana.
Os tempos em que o PRI (Partido Revolucionário Institucional) sempre estava na dianteira passaram para a história. O país se transformou com a rebelião zapatista de 1º de janeiro. Agora sua sociedade está mais exigente, mais pluralista e melhor informada.
Pergunta - Dizem que este é seu "annus horribilis".
Carlos Salinas de Gortari - Eu diria que é um ano complexo. Eu me refiro à rebelião de Chiapas, ou ao mais trágico de tudo: o assassinato de Luis Donaldo Colosio. Estes fatos nos induziram a uma orientação política nova. O país ruma para uma eleição democrática.
Pergunta - A revolta de Chiapas o surpreendeu?
Salinas - Não tinha informações que indicassem a existência de um grupo guerrilheiro como o que apareceu em 1º de janeiro.
Pergunta - O senhor não acha estranho o papel de Marcos, as máscaras, suas cartas e tudo que está acontecendo na selva?
Salinas - Não há dúvida de que deste movimento participam indígenas com reivindicações justas. Mas não resta dúvida de que estas pessoas fazem parte de um movimento político em suas colocações, em sua estrutura, no fato de haver rechaçado a resposta social a suas exigências e na origem de seu principal dirigente, Marcos.
Pergunta - Muito poucos acreditam que Luis Donaldo Colosio foi assassinado por um louco.
Salinas - Depois do assassinato, nomeei um subprocurador com plena autonomia. Ele chegou a conclusões iniciais, mas depois levou a público outras diferentes. Então anunciou que seu trabalho havia sido concluído, mas achei que não era o caso. Por isso assinalei que não considerava o caso encerrado. Agora ele está nas mãos da subprocuradora Olga Islas, que goza de grande reputação.
Pergunta - A três semanas da eleição, o senhor está adquirindo uma proeminência pouco comum em se tratando de um presidente em final de mandato.
Salinas - Diante dos fatos traumáticos que vivemos durante o primeiro semestre, havia duas opções: fechar o sistema e construir uma muralha em torno, ou dar um passo adicional em favor da democracia no México.
O fato de a autoridade eleitoral haver se declarado apartidária é inédito. O mesmo acontece com o novo pacote eleitoral, que foi reconhecido por oito dos nove partidos que participam das eleições, entre eles a principal força de oposição: o Partido de Ação Nacional.
A abertura dos meios de comunicação –especialmente a televisão– na cobertura da campanha é inédita, assim como o debate dos principais candidatos.
Pergunta - O senhor não teme que, se o PRI ganhar, as ruas se encham de manifestantes?
Salinas - Isso poderia acontecer se não estivéssemos preparando uma eleição imparcial.
Pergunta - Uma crítica muito contundente é de que durante sua administração aumentou o número de milionários no México e o contraste que isso representa com os níveis de pobreza.
Salinas - Existem extremos de riqueza e de pobreza, mas pesquisas confirmam que sob meu mandato o processo de concentração de riqueza foi interrompido.
Pergunta - Como seu governo será lembrado?
Salinas - Meu objetivo durante esses anos tem consistido em fortalecer a soberania do México, proteger o regime de liberdades, avançar no processo de democracia e expandir a justiça.

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